Colunistas

Fora da casinha

antonio-carlos leite colunista Quem viu na íntegra o discurso da presidente Dilma na abertura dos Jogos Indígenas ficou na dúvida se ela falava sério ou não. De vez em quando ela sorria, é verdade. Mas Dilma estava séria, apoteótica, quando afirmou: “A mandioca é a maior conquista do Brasil!” Bom… boa parcela da população, principalmente a apreciadora de mandioca de todos os tamanhos e gênereos, pode concordar com a presidente. Só não vai conseguir explicar qual o motivo da homenagem ao tubérculo ser feita durante o discurso de abertura de uma competição entre indígenas. Dilma dizia obviedades como “nós temos uma série de produtos que certamente foram essenciais para o desenvolvimento humano ao longo dos séculos”, como se estivesse fazendo uma revelação surpreendente – convenhamos, sem alimento, a humanidade simplesmente não sobreviveria. E essas platitudes eram antecedidas de frases como “nós, ocidentais e orientais, e povos de TODOS os hemisférios…” Como todos? São apenas dois. E ao falar de ocidentais e orientais, a presidente já tinha englobado todo o planeta, não tinha como somar mais ninguém.

ANÚNCIO

O discurso foi aberto por uma afirmação confusa. A presidente estabeleceu relação entre a Grécia antiga, os Jogos Olímpicos e “a paz mundial no entre-guerras”. Como assim? As Olímpiadas da era moderna tiveram início no final do século XIX, antes da Primeira Guerra Mundial.  Dilma terminou com uma bola artesanal, indígena, na mão. “Ela vai durar o tempo que for necessário”, garantiu a presidente, sentindo-se poderosa a ponto de dominar o tempo e os materiais. Nesse momento ela criou um novo gênero da humanidade: “Essa bola é um símbolo da capacidade de nos distingue… Um símbolo da evolução. Quando nós criamos a bola nos transformarmos em Homo sapiens e Mulheres sapiens”.

Por ser desconexo, o discurso é engraçado e… preocupante. Mulheres e homens sapiens também se distinguem por transmitirem seus pensamentos por meio de palavras. Quaanto mais claras elas são, mas elas transmitem clareza de ideias. Dilma aparenta estar confusa. Mais: parece estar descolada da realidade, ora por conta de sua descontração exagerada, ora por conta das bobagens proferidas com um ar grave, como se estivesse nos mostrando algum pensamento profundo.

Talvez o país nunca tenha tido um governante tão solitário e isolado quanto Dilma. Seja pelo seu comportamento ou por escolhas erradas (o que é Sibá Machado, por exemplo?), a presidente não tem ninguém efetivamente ao seu lado, não tem defensores, como até Collor teve, e, pelo discurso de quarta-feira, não tem nem uma assessoria de comunicação capaz de cuidar da imagem do governo. Ou talvez, por termos um governo que não governa, alguém tenha chegado à conclusão que não exista imagem para ser cuidada. E a presidente ficou livre para sair por aí, falando sobre mandiocas e bolas…

Antonio Carlos Leite é jornalista há 28 anos. É diretor de Redação  do Metro, diretor de Jornalismo da Sá Comunicação e escreve às sextas-feiras no Metro Vitória.

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias