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Iluminar a cena para espantar o crime

xico-vargas colunistaAs mulheres acham que os ladrões são fotofóbicos, diz sempre com muita ironia meu querido amigo e jornalista Marcos Sá Corrêa. Com as mulheres deveria concordar o prefeito Eduardo Paes, a quem cabe cuidar dos postes de luz da cidade desde que a Constituição de 1988 delegou aos municípios essa responsabilidade. A relação entre iluminação e criminalidade está comprovada em inúmeras pesquisas. Capazes de identificar, por exemplo, que nos pontos de venda de drogas as luminárias são sistematicamente destruídas, e que áreas mais escuras são as de maior incidência de crimes urbanos.

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No luto e na luta por dar algum sentido à morte do filho, o jovem estudante de Biologia da UFRJ, Alex Schomaker Bastos, seus pais anunciaram que pretendem apresentar à prefeitura projeto para iluminar todos pontos de ônibus da cidade. Em um ponto de ônibus então às escuras, na rua General Severiano, em Botafogo, em frente ao campus da Praia Vermelha, Alex foi morto em um assalto. Hoje, depois da casa arrombada, o lugar está iluminado, exemplificando como luzes acesas em todos os pontos de ônibus da cidade é providência simples, mas que pode ser boa coadjuvante como medida preventiva contra novos crimes.

Chama a atenção, na morte de Alex,  o fato de que ele era aluno de um curso noturno de Geografia de uma universidade pública. Até bem pouco tempo, a maioria das universidades federais fechava as portas à noite. Foram investimentos recentes na expansão de vagas que permitiram a abertura de cursos noturnos, sinal de inclusão social, oportunidade para o aluno que trabalha o dia inteiro e correção de uma antiga distorção: só quem não precisava trabalhar para se sustentar podia passar o dia numa universidade pública estudando.

Cada vez mais, a universidade pública enfrenta o desafio de se abrir aos que nunca tiveram oportunidade de ali entrar. Grande parte desses alunos dependerá dos cursos noturnos e de condições de frequentar os pontos de ônibus lá pelas 22h, 23h, quando a maioria dos trabalhadores já não está mais à espera de transporte público. São horários vulneráveis também porque as linhas têm menos ônibus em circulação durante a noite. O desafio aqui é fazer com que uma política converse com a outra. O crescimento das vagas na universidade é uma importante política federal. A segurança pública é o permanente desafio do governo estadual. Mas principalmente na cidade olímpica dos grandes investimentos em BRTs, vilas para atletas, reforma da zona portuária, duplicação do Elevado do Joá, aumento da malha de ciclovias, não dá para a prefeitura esquecer de trocar as lâmpadas queimadas.

O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’, de segunda à sexta-feira, no jornal ‘BandNews Rio 2a edição’, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br.

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