antonio-carlos leite colunista Quem afirma é um jornalista até bem pouco tempo atrás alinhadíssimo com o Palácio do Planalto e, portanto, sobre o qual não recai a suspeita de ser um “golpista”: não se tem notícia na história recente do país de um governo com ares de fim de feira apenas dois meses depois de ter sido (re)iniciado.  Ele tem razão. O descalabro financeiro, os aumentos de preços básicos, a desaceleração da economia, o escândalo da Petrobras, o confronto entre o governo e seus pretensos aliados no Congresso, a entrada em cena do Supremo Tribunal Federal com possíveis punições de uma enorme lista de políticos… A relação de problemas é tão grande quanto a sensação da falta de ação para solucioná-los. O resultado disso é um clima de enorme insatisfação nas ruas, latente, visível, mas ainda não dimensionado. E isso é um problema…

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É um problema porque alguns movimentos da presidente, de alguns de seus aliados (ainda convencidos da existência de uma crise artificial, criada pelos meios de comunicação), de ministros e até mesmo de figuras da oposição, exageradas em suas manifestações pelo “endireitamento” do país, mostram um distanciamento enorme em relação àquilo já definido certa vez como “a voz rouca das ruas”. Ela se manifestou há pouco tempo e provocou um certo temor em Brasília, substituído, semanas depois, pela antiga rotina do velho poder. Mas também se manifestou há muito tempo. E foi provocada por um episódio pouco lembrado. Acossado por uma série de denúncias, o então presidente Collor se sentiu revigorado (e até, digamos, eufórico, como ele ficava de vez em quando) quando deparou com uma multidão de taxistas, reunidos em Brasília. Achando-se poderoso, convocou a população a sair às ruas, no domingo seguinte,  vestindo verde e amarelo, em sinal de apoio ao seu governo. Mobilizada, a população vestiu-se de preto. E tomou as ruas do país.  Só aí a oposição e, principalmente, o governo tiveram noção da insatisfação popular. Daí à queda de Collor foi um pulo.

A história ensina, mas nem todos aprendem com ela. Em seus gabinetes, tanto a oposição quanto o governo não têm noção exata da irritação do povo com o atual quadro. E possivelmente ainda não terá no ato contra a presidente convocado para o dia 15. Porque a tal voz rouca só surge mesmo quando vem de forma espontânea. Há quem a menospreze. Mas em vários momentos da história ela se fez ouvir. Alguns, como Collor, a fustigaram mesmo sem querer. E acabaram comprovando uma velha frase de Ulysses Guimarães: “Político só tem medo do povo nas ruas”. Ulysses sabia das coisas…

Antonio Carlos Leite é jornalista há 26 anos. É diretor de Redação do Metro, diretor de Jornalismo da Sá Comunicação e escreve às sextas-feiras neste espaço.

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