Colunistas

Agenda velha em ano novo

fernando-carreiro-colunistaO que o carnaval representa pra você? Para alguns, descanso; para outros, folia. Para quem aproveita a festa, os blocos parecem ser mais homogêneos que os desfiles exibidos na tv. Nos blocos, não há separação entre ricos e pobres; no sambódromo, o poder aquisitivo dá o tom. Na rua, todo mundo se veste como quer, e o patrocínio sai do próprio bolso ou daquela tia costureira gente-fina; na passarela do samba, ditadores costumam financiar o enredo para propagandear seus malfeitos travestidos de benesses coletivas. E houve quem escolhesse o ócio como opção de lazer nesse último feriadão antes da passagem do ano de 2015 da versão betha para a alpha, com tranquilidade, olhos fitando a televisão ou a leitura de um bom livro. Tal qual vemos na política. Nós, do lado de cá do “sambódromo”, assistimos ao desfile de desmandos do lado de lá: separações entre ricos e pobres; entre quem manda e quem assiste; quem tem poder aquisitivo e quem só sabe que existem milhões (e bilhões) quando vê nos jornais o escândalo da Petrobras. No meio, o bloco passa, com seus personagens, muitos deles folclóricos, acenando à plateia, vestidos de palhaço e outros até nus. Tal qual na folia, alguns continuam inertes no carnaval político: só assistem, igualmente desprovidos de qualquer armadura. Enquanto isso, há confete, serpentina e um samba-enredo escrito na medida para levantar a plateia e arrancar aplausos sem cobranças. Para isso, é necessária uma agenda velha sob o manto da novidade. São inúmeras as CPIs no início do ano legislativo que começou há pouco mais de três semanas: tem a do Transcol, a do Pó Preto, a da Petrobras… Para citar apenas algumas e não cair na infinidade. Há também cortes de gastos e de investimentos no íncio de governo e aumento subsequente e indiscrimado, depois. Comissões com suas presidências já pré-acertadas, assim como a mesa diretora pré-definida antes mesmo do início da legislatura, e com a bênção do Poder Executivo, também. Reajutes nos preços da gasolina e da conta de energia entram na lista das queridinhas passistas de início de governo e que perdem espaço nos jornais após o carnaval. À moda Nicolau Maquiavel, o rei da estratégia, todo mal é feito de uma só vez, rapidamente; o bem, aos poucos (ao longo do mandato). Todos os anos, o carnaval é igual. Todos os anos, a política é como o carnaval: divida em blocos, com as mesmas histórias, patrocínios e forma bem-humorada (e risível) de conquistar o cidadão, que cai na folia, se embebeda e se esquece de tudo na semana seguinte. No mais, feliz ano novo!

Fernando Carreiro é jornalista especializado em comunicação eleitoral e marketing político.

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias