Uma testemunha chave do acidente entre um Porsche e um Renault Sandero, que resultou na morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, na Zona Leste de São Paulo, contou o que aconteceu com o condutor do carro de luxo momentos antes da colisão. Uma jovem que esteve com o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, diz que ele brigou com a namorada, que não queria que ele dirigisse, pois tinha tomado “alguns drinks” em um restaurante.
A jovem em questão é namorada de Marcus Vinicius Machado Rocha, de 24 anos, que é amigo do empresário. O rapaz estava com ele no Porsche quando houve o acidente e ficou ferido. Ele segue internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Luiz Anália Franco, na Zona Leste, entubado.
A namorada do amigo prestou depoimento no 30º Distrito Policial do Tatuapé na quarta-feira (3). Ela contou que, na noite de sábado (30), o casal foi ao encontro de Fernando e a namorada dele, em um restaurante. Lá, eles “jantaram e ingeriram alguns drinks”.
Depois do encontro, os dois casais seguiram para uma casa de pôquer, onde Fernando e Marcus Vinicius foram jogar, enquanto as namoradas conversavam. A jovem testemunha relatou que nesse local não viu os rapazes consumirem mais bebidas alcóolicas.
Já na madrugada de domingo (31), eles deixavam o local, quando a namorada pediu ao empresário para não dirigir, pois eles “perceberam que Fernando estava um pouco alterado”. Foi iniciada uma discussão e, irredutível, o empresário brigou com a namorada.
“Não chegaram a um acordo e Fernando não quis deixar outra pessoa dirigir o seu veículo”, contou a testemunha. Ainda segundo a jovem, “Marcus Vinicius se dispôs a ir com Fernando para que este não fizesse nada de errado.”
Assim, o amigo planejava acompanhar o empresário até a casa dele, sendo que as namoradas seguiam em outro carro. O plano era que, de lá, o casal deixasse a namorada do amigo em casa e eles seguissem seus caminhos.
A testemunha relatou, ainda, que Fernando saiu “dirigindo de boa, devagar”. Porém, em um determinado momento, ele “acelerou e o perdeu de vista”. Logo depois, ela ligou para seu namorado e já soube que eles tinham sofrido um acidente. Ela seguiu ao local e “viu Fernando saindo do veículo e sentando no chão em estado de choque”.
A jovem relatou, ainda, que ela e a namorada do empresário ficaram próximas de Marcus Vinicius e Fernando aguardando o resgate, quando a mãe do empresário, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, apareceu e o levou do local.
‘Cambaleando e com voz pastosa’
Outras testemunhas do acidente disseram à polícia que viram o empresário “cambaleando e com a voz pastosa”, com sinais visíveis de embriaguez.
“Desceu cambaleando, com voz pastosa, não sabia dizer o que estava acontecendo, só pedia para sair da frente dele (...) claro estado de embriaguez. Em nenhum momento ele, sua mãe ou a pessoa que estava com eles prestaram qualquer tipo de apoio ou socorro às vitimas do outro carro”, disse uma testemunha à polícia, segundo o jornal “SP1″, da TV Globo.
Um homem e uma mulher que viram o acidente prestaram depoimentos na terça-feira (2). Eles disseram que viram quando “um veículo o ultrapassou em alta velocidade” e depois “ouviram um forte barulho de colisão”. Logo depois, mais à frente, estavam o Porsche e Sandero já batidos.
Ainda segundo as testemunhas, o empresário “aparentava sinais de embriaguez, cambaleando, voz pastosa e não sabia dizer o que estava acontecendo. Só pedia para sair da frente dele”. Depois disso, a mãe do motorista de carro de luxo e a namorada dele, juntas de outras duas mulheres, apareceram e levaram Filho. Em nenhum momento o grupo prestou socorro a Viana.

O que disse o motorista do Porsche?
O condutor do carro de luxo fugiu do local e só se apresentou mais de 38 horas depois. O empresário não foi submetido ao teste do bafômetro, apesar da presença de policiais militares. Em depoimento, o condutor do veículo de luxo admitiu que estava “um pouco acima do limite de velocidade”, mas sem precisar o quanto. Outras testemunhas disseram que ele corria muito e passava dos 50 km/h estipulados na via.
O empresário afirmou que, no momento do acidente, ele estava indo levar um amigo em casa e, quando seguia pela Avenida Salim Farah Maluf, no sentido a Radial Leste, “viu a luz de freio de um veículo a frente acender e ao tentar desviar” colidiu com ele.
Ainda no depoimento, o motorista do carro de luxo disse que perdeu os sentidos por conta da batida e, por isso, não se recorda exatamente qual era a sua velocidade. Questionado pelos agentes, ele acabou admitindo que “estava um pouco acima do limite permitido, porém, não chegava ser muito acima também”.
Em entrevista ao site UOL, os advogados afirmaram que Filho não fugiu e que foi “devidamente qualificado pelos policiais militares de trânsito, tendo sido liberado pela PM para que fosse encaminhado ao hospital”.
Os advogados disseram, ainda, que ele demorou a ir até a delegacia em função da necessidade de “resguardo”, já que o cliente está sofrendo “linchamento virtual” e, além disso, ficou em “estado de choque pelo acidente e pela notícia de falecimento da vítima”.
Por enquanto, o empresário foi indiciado por homicídio doloso, quando há intenção de matar, lesão corporal e fuga de local de acidente. A Polícia Civil solicitou a prisão temporária dele, mas o pedido não foi aceito pela Justiça e ele segue respondendo ao caso em liberdade.
O acidente
Um vídeo gravado por câmeras de segurança mostra o momento da batida (veja abaixo).
A Polícia Técnico-Científica informou que analisa as imagens gravadas por câmeras de segurança para determinar qual era a velocidade do Porsche no momento da batida com o Sandero.
Daniela Cristina de Medeiros Andrade, mãe do empresário, que esteve no local do acidente e o levou dizendo que o levaria a um hospital, pois estava machucado, mas não o fez, poderá responder por fraude processual.
A mulher afirmou em depoimento que pediu autorização da Polícia Militar para tirar o filho do local do acidente, pois ele estava ferido e não havia ambulância para levá-lo até o Hospital São Luiz Ibirapuera. Porém, ela ficou com medo de que o filho fosse “linchado” e decidiu seguir para casa do rapaz.
Chegando lá, a mulher disse que o filho foi tomar um banho, “pois estava muito sujo”, e ela tomou um relaxante muscular já que estava “muito nervosa”. Ela pretendia levar o filho ao hospital depois disso, mas eles acabaram dormindo e só acordaram cerca de 3 horas depois.
Os PMs chegaram a ir até o hospital em busca do rapaz para fazer o teste do bafômetro, mas ele não foi mais encontrado e passou a ser procurado, mas só se apresentou mais de 38 horas depois.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) destacou que a “Polícia Militar instaurou uma investigação preliminar para apurar a conduta dos policiais” que atenderam à ocorrência.


