Ah, como seria diferente se Marcelo Grohe tivesse cabelos compridos, usasse uma bandana na testa e falasse espanhol. Como ele seria adorado pelos torcedores se fosse um sujeito destemperado, polêmico, e que provocasse os rivais a toda hora. E imagine, prezado leitor, se ele já tivesse jogado no Boca Juniors e no Nacional, do Uruguai, e ainda por cima contabilizasse uma meteórica passagem de dois jogos pela Seleção Argentina! Nossa senhora. Haveria uma estátua na Arena. E faixas na arquibancada. Marcillo Grôe, el arquero más grande en la historia del Grêmio.
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Mas Marcelo Grohe foi nascer em Campo Bom e decidiu estar no Grêmio desde criança – e só no Grêmio. Também fez a opção de ser um cidadão diferenciado neste mundo bagunçado do futebol. Destoa da maioria. Quis ser um bom pai de família. Casou. Tem um filho pequeno. Surpreendentemente usa a noite para estar em casa e descansar. E talvez não pronuncie nem um “hola, que tal” no idioma oficial da arquibancada gremista.
Grohe é do interior do Rio Grande do Sul e comete a insensatez de levar uma vida sem extravagâncias. Mantém o hábito de não se meter em polêmicas. Costuma ser respeitoso com os adversários, educado nas entrevistas, gentil com torcedores. Definitivamente este perfil não combina com o de um bom goleiro, muito menos um goleiro do Grêmio. Tem que ser espalhafatoso, provocativo, marrento e, melhor ainda, se falar espanhol. Ah, a língua espanhola causava frisson já nos tempos do Olímpico. Loiro de cabelos compridos, teria virado mito. E se tivesse um apelido, então… tipo “tapa penales”. Ou “el portero salvador”!
Eu não estou falando que ele é o melhor goleiro da vida gremista. Mas Grohe é um baita goleiro. E que não repete nestes últimos tempos a melhor fase de sua carreira, alcançada em 2014 e 2015, quando foi o número 1 do país. Depois, encarou uma sequência de lesões, talvez a saída da Seleção o tenha prejudicado, e ele está um degrau abaixo daquele nível de atuação. Mas, à época, Grohe salvou o Grêmio uma, duas, três dezenas de vezes.
Não há jogador no mundo que não caia de rendimento. Grohe já jogou melhor. Mas seu nível de atuação segue excelente. Como é menos exigido do que em anos anteriores, faz menos defesas milagrosas durante os jogos e quando sofre um gol aparece mais. Mas daí a responsabilizá-lo, por exemplo, pela derrota para o Corinthians é um exagero. Não é porque Cássio foi o melhor em campo que Grohe deve ser detonado.
Vamos ao lance, propriamente dito, do gol corintiano. Um chute forte, difícil, que veio na direção do goleiro gremista. Entre avaliar que houve uma falha e dizer que a bola era defensável há uma gigantesca diferença. E eu fico com esta segunda opção, relevando que o chute foi disparado com força e que conclusões com a bola passando ao lado do pé do goleiro são muito difíceis. Fosse um metro ao seu lado ele teria mais chances de defender. Mas não conseguiu. E a grande defesa que fez no primeiro tempo foi esquecida. E seu passado recente também.