Envolvida em uma batalha jurídica com as plataformas de aplicativo 99 e Uber, que lançaram serviço de mototáxi contrariando decreto municipal, a prefeitura de São Paulo resolveu quantificar o que gasta com acidentes de motocicletas por ano. Os gastos com pacientes vítimas de acidentes de moto na capital paulista chegaram a R$ 35 milhões em 2024, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde. Esse valor é uma estimativa do custo anual da pasta com o problema.
De acordo com a secretaria, no ano passado a cidade teve 3.744 internações de pacientes com traumas em virtude de acidentes de trânsito envolvendo motos. A quantidade é quase 10% maior que do que as 3.432 internações de motociclistas acidentados ocorridas em 2023.
Os valores gastos, segundo a secretaria, envolvem toda a linha de cuidados da rede municipal no tratamento dos pacientes, desde os custos de internação e cirurgias, até os tratamentos e fisioterapias de recuperação.
Na quarta-feira (22), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) comentou em uma agenda pública que a cidade já teve, nos primeiros dias de janeiro, mais de 100 internações de motociclistas. Deste total, 47 deles aguardam cirurgia em razão dos acidentes.
A afirmação foi feita como uma crítica do prefeito à decisão das empresas de aplicativo 99 e Uber de manterem ativos os serviços de transporte de passageiros por motocicletas, em descumprimento a uma norma municipal que proíbe esse tipo de serviço na cidade desde 2023.
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Segundo o prefeito, profissionais dos serviços médicos da cidade, como o Samu e hospitais, estão “apavorados” com a possibilidade de possíveis aumentos nesses números. Na avaliação de Nunes, as empresas ignoram os riscos à vida das pessoas e só agem “visando o lucro” e a “ganância”.
Na quarta, a prefeitura entrou com uma queixa-crime contra a 99, que lançou o serviço primeiro e contra quem já há várias ações na Justiça, e planeja fazer o mesmo com a Uber, que lançou o serviço nesta quarta (22).
Por meio de nota, a 99 disse que “vê com estranheza a tentativa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, de criminalizar a discussão sobre um serviço que já beneficia pessoas em mais de 200 mil corridas na cidade”. A empresa alega que “o pedido de abertura de inquérito é uma cortina de fumaça do prefeito para não discutir o fato de que a modalidade é permitida pela legislação brasileira”.
“Essa postura do município caracteriza uma perseguição ao aplicativo, a seus funcionários e aos usuários do serviço: os passageiros e motociclistas parceiros. A empresa esclarece que nenhum crime foi cometido e nem há desrespeito a qualquer decisão judicial, sendo que recente decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo confirma o que o STF e 20 decisões judiciais de tribunais do Brasil reconheceram: é inconstitucional qualquer proibição ou restrição à atividade”, disse a empresa.
Além das internações, as mortes de motociclistas na cidade de São Paulo subiram cerca de 20% no ano passado, segundo levantamento realizado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Foram 483 mortes em 2024, contra 403 em 2023.
As mortes em acidentes com motos representam 37% do total dos óbitos no trânsito da capital paulista, e lidera o ranking.

