Danilo Martins de Jesus, pai do turista paulista Henrique Marquez de Jesus, de 16 anos, que foi achado sem vida após desaparecer na Vila de Jericoacoara, no Ceará, em dezembro passado, nega que o filho tenha ido a um ponto de venda de drogas vestindo uma camiseta com um símbolo de uma facção. Segundo a Polícia Civil, a roupa do rapaz chamou a atenção dos criminosos e, por isso, eles o torturaram e mataram. Porém, o genitor da vítima não acredita nessa versão.
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“O que eles [policiais] querem fazer é, como fazem sempre, inverter a situação para o lugar [Jericoacoara] não perder os turistas”, disse Danilo, em entrevista ao G1.
O pai também negou que o filho usasse uma camiseta com símbolo yin yang, que é relacionado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), no momento em que desapareceu. “Era a azul escura, da marca Adidas, a mesma que vestia na foto em que aparece fazendo o símbolo ‘tudo três’”, ressaltou o genitor.
Danilo criticou a falta de respostas da investigação sobre o que aconteceu, de fato, com o filho, e reafirmou que o garoto não tinha ligação com atividades ilícitas. “Já aconteceu, eles [policiais] podem falar o que quiserem, não vai adiantar de nada. Então, eu não estou fazendo questão, porque eu sei que a Justiça é muito fraca aqui no Brasil”, desabafou.
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Reviravolta nas investigações
Inicialmente, a suspeita era de que a motivação da morte de Henrique tivesse sido uma foto que ele compartilhou nas redes sociais, na qual fazia um gesto com a mão, que teria sido relacionado a uma facção. No entanto, com o andamento das investigações, os indícios apontam para outro rumo.
O delegado Júlio Morais, responsável pelo caso, disse ao portal “Metrópoles” que uma camisa com o símbolo teria motivado o crime. Essa informação surgiu durante os depoimentos dos suspeitos, sendo que, dos sete identificados por ligação com o assassinato, dois menores foram apreendidos e um terceiro aguarda decisão judicial para oficializar a internação.
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Os adolescentes contaram que o turista paulista foi até um ponto de venda de drogas, na noite do dia 16 de dezembro de 2024, quando chamou a atenção por causa de uma camiseta que usava, que tinha um desenho de meia lua. Essa imagem é relacionada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), sendo que o grupo criminoso atuante em Jericoacoara é o Comando Vermelho (CV).
“O Henrique não faleceu em virtude de ter feito um símbolo numa postagem no Instagram. Ele faleceu porque chamou a atenção dos criminosos por estar vestindo uma blusa, que teria um símbolo ou desenho relacionado a um grupo criminoso rival. A partir disso, os criminosos, supostamente, o julgaram integrante do tal grupo e mexeram no celular dele para buscar mais informações”, disse o delegado.
Apesar disso, o investigador disse que Henrique foi achado sem camiseta e o item também nunca foi localizado. “Não temos absoluta certeza dessas informações. Não tivemos acesso ao celular da vítima. Ele nunca foi encontrado. A polícia crê nessa informação, porque não houve contradição das testemunhas e ela veio dos próprios envolvidos. Não tem como atestar que ela seja verídica, mas eu acredito que seja”, afirmou Morais.
Relembre o caso
Henrique estava em viagem de férias a Jericoacoara com o pai. A família, que é de Bertioga, no litoral paulista, logo negou que ele tivesse qualquer ligação com grupos criminosos quando desapareceu, na madrugada do último dia 17 de dezembro.
Após comunicar o desaparecimento do filho à polícia, Danilo recebeu um vídeo que mostra o adolescente sendo rendido e carregado por, ao menos, sete pessoas. O corpo do jovem foi encontrado no dia seguinte, próximo à Lagoa Negra, local afastado do centro da vila, com sinais de tortura.
Na ocasião, o pai de Henrique pediu que os turistas sejam orientados sobre os gestos utilizados por facções da região e que não devem ser feitos no local.
“Isso que ele fez com as mãos nas fotos é normal onde moramos. O moleque tinha 16 anos. Deveriam ter orientado e não fazer uma crueldade dessas, achando que um moleque de 16 anos era envolvido com facção”, desabafou o pai.
Agora, com a reviravolta das investigações, o Daniel voltou a dizer que seu filho não tinha ligação com atividades ilícitas. “Estão querendo inverter a situação, como se ele fosse bandido para abafar o caso. Meu filho não é bandido. Ele não foi a primeira nem será a última vítima do que acontece lá [em Jericoacoara], aquele lugar amaldiçoado”, lamentou.