Foco

Carro adulterado da polícia estava na área na hora da execução de Gritzbach

‘Fantástico’ teve acesso a imagens de câmeras de segurança; policial do DEIC ficou por horas no local onde o delator foi morto

Reprodução/TV Globo
Reprodução/TV Globo

O Fantástico deste domingo (8) levou ao ar reportagem em que afirma que horas antes do assassinato do empresário Vinícius Gritzbach, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, um carro suspeito estava no mesmo local onde tudo aconteceu. Era uma viatura da polícia civil descaracterizada, com a placa adulterada.

ANÚNCIO

No dia do ataque, esse carro foi utilizado fora dos registros da polícia. Segundo pessoas envolvidas na investigação do caso, o agente da polícia civil Alfredo Alexander Raspa da Silva, que estava ao volante, alegou à Corregedoria que fez uso particular de um carro oficial - um bem público - para ir até o aeroporto. Ele afirma que adulterou a placa porque não queria ser descoberto.

Segundo Alfredo, ele estava de férias e foi ao aeroporto para pegar um voo para Porto Alegre (RS), onde ficaria por dois dias. O Fantástico teve acesso, com exclusividade, a imagens de câmeras de vigilância do Aeroporto De Guarulhos, que estão sendo usadas para esclarecer o caso.

Às 15h, o carro passou pela área de desembarque do terminal 2 do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Na placa, logo na primeira letra, há uma adulteração grosseira: uma fita adesiva é usada para formar a letra “a”. Na verdade, a letra original é um “F” - que forma a numeração real da placa de uma viatura descaracterizada da Polícia Civil de São Paulo.

Depois de deixar o carro no estacionamento do terminal 2, Alfredo caminha, às 14h25. Esse é o local de execução de Vinícius. O voo dele partiria por volta de 15h, do terminal 1, que fica a três quilômetros de distância dali e onde também tem um estacionamento.

Leia mais:

Caso Gritzbach: polícia prende primeiros suspeitos

ANÚNCIO

Caso Gritzbach: Polícia Federal prende policiais delatados pelo empresário assassinado

O policial disse que perdeu o voo e que, por isso, foi pra casa. O Fantástico apurou que ele ficou por horas no aeroporto e que, inclusive, foi visto no terminal 2 depois do assassinato, quando a área já estava cercada.

Cerca de 40 minutos depois da execução, Alfredo aparece, com um celular na mão esquerda, e caminha em direção ao local do crime. Então, começa a tirar uma série de fotos.

Apesar de circular em torno do local do crime, em nenhum momento ele fez contato com os policiais que trabalhavam no caso.

A corregedoria da Polícia Civil instaurou um inquérito pra investigar o que ele fazia no aeroporto, usando uma viatura oficial de forma clandestina e com a placa adulterada.

Alfredo disse ao Fantástico que confundiu o terminal, mas que tentou pegar o voo e que não conseguiu remarcar a passagem. Ele planejava desde setembro ir a Porto Alegre fazer um curso. Explicou que ficou no aeroporto até 20h, porque tentou comprar uma nova passagem, mas desistiu da viagem por causa do preço.

Sobre as fotos do crime, Alfredo falou que foi por interesse profissional, já que é policial. Ele reconheceu que errou ao usar o carro para fins particulares, e afirmou que não conhece Gritzbach nem tem envolvimento com o crime.

Depois dessa conversa, ele mandou mensagem dizendo que não autorizava a divulgação dos áudios do telefonema. Alfredo é policial do DEIC, o Departamento Estadual De Investigações Criminais. A viatura também é do DEIC. Trata-se do mesmo departamento onde trabalham policiais delatados por Vinícius Gritzbach.

Vinícius Gritzbach estava sendo investigado por lavar dinheiro para o PCC e, no fim do ano passado, começou a negociar um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo. Ele deu nomes de integrantes da facção criminosa para quem fazia a lavagem e acusou policiais civis de corrupção.

Segundo ele, eram agentes do DEIC, do DHPP, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, e também do 24º Distrito Policial da capital paulista. Partes dessas denúncias de Gritzbach contra policiais foram depois repetidas à Corregedoria Da Polícia Civil de São Paulo no fim de outubro.

A equipe do Fantástico apurou que o nome Alfredo Alexander Raspa da Silva não aparece na delação.

Gritzbach era acusado ainda de ser mandante da morte de um dos chefes do PCC, com quem fazia negócios. Segundo a investigação, o motivo seria um desfalque de R$ 300 milhões que ele teria dado no bandido. Gritzbach sempre negou o desvio do dinheiro e a participação no homicídio.

Em conversas com o Ministério Público, ele manifestou medo de ser alvo de um atentado. “Eu precisava de um amparo de vocês também, porque senão você tá falando com um morto vivo aqui”

A promotoria chegou a oferecer a inclusão de Gritzbach no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, o Provita, que é federal, mas ele recusou. O empresário tinha escolta particular, formada em sua grande maioria por homens da Polícia Militar fazendo bico.

Vinícius Gritzbach foi atingido por 10 tiros e morreu no dia 8 de novembro quando voltava de uma viagem a Alagoas com a namorada.

Um mês depois do crime, policiais que cuidam da investigação dizem já ter indícios sobre quem são os mandantes, mas ainda há pontos a esclarecer sobre a execução de Vinicius Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos.

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias