Ex-funcionários da Voepass, a antiga Passaredo, relataram uma série de precariedades em aviões da da companhia aérea. Um deles caiu no último dia 9 em Vinhedo, no interior de São Paulo, matando 62 pessoas. Os ex-colaboradores criticaram as manutenções das aeronaves, sendo que até um palito foi usado em uma ocasião para reparar um botão que aciona o sistema antigelo.
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“O problema foi detectado no nível de aquecimento de um dos sistemas. A solução encontrada pela manutenção foi a colocação de um palito de fósforo, ou sei lá, um palito de dente. Eu vi com esses olhos que a terra há de comer”, contou o comandante Ruy Guardiola, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo.
Um dos primeiros pilotos a voar com o modelo ATR no Brasil, Guardiola disse que trabalhou apenas um mês na então Passaredo, em 2019, quando flagrou a situação inusitada com o palito. E é exatamente uma falha no sistema antigelo que é uma das principais suspeitas sobre a queda da aeronave em Vinhedo.
O comandante também falou sobre “danos estruturais” sofridos pela aeronave que caiu, que a fizeram passar quatro meses sem operar neste ano.
“O problema hidráulico em qualquer aeronave, seja um ATR, seja um boeing, seja um Airbus, ele é altamente significativo. Teve dano estrutural. Que tipo de correção foi efetuada pelo grupo Voepass na sua manutenção, para disponibilizar a aeronave a voo?”, questionou ele, ressaltando que as falhas podem sim ter contribuído para a tragédia.
Outro ex-comissário da companhia aérea, que não quer ser identificado, denunciou que uma aeronave era tão precária que foi apelidada de “Maria da Fé”.
“A empresa colocava a segurança em segundo ou terceiro plano. Visava mais o lucro e a gente tinha um avião que apelidava de Maria da Fé, pra você ter ideia. Porque só voava pela fé. Porque não tinha explicação de como o avião daquele estava voando”, denunciou o ex-funcionário.
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“Eu queria encorajar todo mundo que já passou pela empresa a poder relatar, para poder evitar que alguma outra coisa possa acontecer no futuro. Tem muita negligência com a segurança”, concluiu o ex-comissário.
A Polícia Civil, a Polícia Federal e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) investigam as causas do acidente. As caixas pretas da aeronave foram retiradas e encaminhadas para análise em Brasília.
Até agora, das 62 vítimas, 17 já foram identificadas por uma força-tarefa do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo.
O que disse a Voepass?
A companhia aérea Voepass Linhas Aéreas, a antiga Passaredo, disse ao “Fantástico” que informações relacionadas à investigação serão restritas à Aeronáutica e outras autoridades. A empresa não deu detalhes sobre as falhas registradas antes da queda.
Sobre o dispositivo antigelo e o ar condicionado, a companhia afirmou que o ATR estava “aeronavegável”, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, cumprindo requisitos e exigências das autoridades.
A Voepass ressaltou que cumpre e respeita as legislações trabalhistas, e que o esforço principal da companhia, neste momento de dor, está em apoiar e dar assistência às famílias dos passageiros e tripulantes que estavam a bordo.
Acidente aéreo
O avião bimotor, modelo ATR-72, saiu de Cascavel, no Paraná, às 11h50 da última sexta-feira (9), com destino a Guarulhos, na Grande São Paulo, onde pousaria às 13h45. A capacidade é de 68 passageiros, mas 62 pessoas estavam a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes.
Porém, o avião caiu no quintal de uma residência, que fica em um condomínio residencial de Vinhedo, mas nenhuma vítima foi registrada em solo.
Moradores conseguiram registrar o exato momento em que a aeronave rodava no ar e caiu. Na sequência, o avião pegou fogo e nenhum do ocupantes sobreviveu (assista abaixo):