Está difícil tanto para quem decidiu iniciar aquela reforma adiada tantas vezes em casa como para grandes construtoras, responsáveis por abastecer o mercado imobiliário e realizar obras públicas. O preço do material de construção disparou durante a pandemia e deixou prateleiras vazias para alguns itens.
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O IPCA, índice oficial de inflação do país medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que ferragens, pisos, telhas, tijolos e materiais hidráulicos estão entre os itens que mais subiram de preço no acumulado de 12 meses encerrados em maio. O material hidráulico, que inclui canos, tubos, torneiras e pias, é o que mais teve alta no período: 36,29%. Em seguida vêm os tijolos (27,66%), revestimentos de piso e parede (22,96%) e telhas (19,70%).
A assistente de recursos humanos Jaqueline Machado Conceição, 29 anos, teve de refazer os cálculos da obra em seu apartamento novo neste ano. “As coisas estavam todas mais caras do que eu havia me programado. Tive que pesquisar muito antes de comprar. E muitas vezes me deparei também com falta de pisos, tendo que optar por algo parecido ao que eu realmente queria.”
Para as grandes construções, o que tem causado problemas na conta final é o aço. A matéria-prima não entra nos produtos pesquisados pelo IBGE para a inflação, mas tem reflexos nos preços finais pagos pelos consumidores tanto em parte dos materiais de construção, como em carros e máquinas, por exemplo. Um levantamento realizado pela Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) indica que o material subiu 79% entre janeiro de 2020 e março deste ano.
A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) vê riscos para o reaquecimento da economia com o aço caro e desabastecido no mercado. “A indústria imobiliária pode ser freada com esse descompasso. Obras públicas também serão afetadas, as licitações vão ficar esvaziadas porque fica difícil produzir nesse cenário”, explica o presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da CBIC, Dionyzio Klavdianos.
Ele afirma que, além de fatores que também impactaram outros setores, como a desvalorização do real frente ao dólar e produção paralisada nos picos de covid-19, a construção viveu na pandemia aumento na demanda. “As reformas e obras em geral não pararam de acontecer. Os produtores de material não deram conta da demanda e o preço foi lá em cima.” Klavdianos conta que, no caso do aço, a produção concentrada em poucas empresas no Brasil pesou ainda mais para o aumento nos preços. A CBIC pleiteia junto ao governo federal que a taxa de importação do produto seja zerada neste ano. “A gente já aguarda para este mês uma remessa de aço da Turquia.”