Cuba virou a página dos governos dos irmãos Castro com a aposentadoria de Raúl Castro, aos 89 anos, numa transição simbólica que não deve mudar a linha política do país, um dos últimos comunistas no mundo. O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, substituiu ontem Raúl como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba, no quarto e último dia do 8º Congresso da legenda.
Junto a Raúl, deixaram de fazer parte da cúpula outros dirigentes históricos, como o atual “número 2” do partido, José Ramón Machado-Ventura, 90 anos, e o comandante Ramiro Valdés, 88, além de Marino Murillo, considerado o líder das reformas econômicas iniciadas há uma década.
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“19 de abril, um dia histórico”, escreveu Díaz-Canel, 60 anos, em sua conta no Twitter. “A Geração do Centenário, fundadora e guia do Partido, entrega responsabilidades a uma geração mais jovem”, acrescentou.
“O mais revolucionário dentro da Revolução é sempre defender o partido, da mesma forma que o partido deve ser o maior defensor da Revolução”, disse o novo secretário, que também é o atual presidente de Cuba.
Entre os novos integrantes do órgão mais poderoso do PCC (Partido Comunista Cubano) estão o primeiro-ministro do país, Manuel Marrero, e Luis Alberto Rodríguez López-Callejas, ex-genro de Raúl Castro e chefe do conglomerado cubano de propriedade militar GAESA, que controla os ativos econômicos mais valiosos do país.
A transferência ocorre em meio a uma profunda crise econômica no país devido à pandemia do coronavírus e ao fortalecimento do embargo que os Estados Unidos mantêm ao país há 60 anos.
Embora seja uma transição emblemática, em um país onde a maioria da população só conheceu Fidel e Raúl Castro à frente do poder, não significa necessariamente uma mudança na linha política cubana. “Desde que nasci, conheci apenas um partido e até agora vivemos com ele, e ninguém passa fome”, diz Miguel Gainza, um artesão de 58 anos que trabalha na Havana Velha e apoia o sistema político. “É uma pena que Fidel tenha morrido, porque ele resolvia tudo”, lamenta.
Nova liderança
Um total de 300 delegados de toda a ilha, representando 700 mil militantes, votou secretamente no domingo para eleger o Comitê Central, composto de 114 membros.
Para John Kavulich, presidente do Conselho Econômico e Comercial Cuba-Estados Unidos, é necessária uma mudança geracional na ilha. “Atualmente, a idade combinada dos três líderes do Partido Comunista está se aproximando dos 300 anos”, diz. O partido está envelhecendo. De seus integrantes, 42,6% têm mais de 55 anos, o que frustra as aspirações dos jovens.
Kavulich considera que há no partido uma “falta de vontade de aceitar que já não é preciso lutar por uma revolução, mas sim gerir um país não de meados do século 20, mas da segunda década do século 21”. Entre muitos cubanos, há um cansaço devido à escassez e às longas filas para se abastecer. O país importa 80% do que consome.
O governo, atormentado nos últimos quatro anos pelo endurecimento das sanções de Washington, continua tendo o combate ideológico entre suas prioridades. “A existência de um único partido em Cuba foi e sempre estará no foco das campanhas do inimigo”, disse Raúl em seu discurso. “Esta unidade deve ser protegida com zelo e nunca aceitar a divisão entre revolucionários sob falsos pretextos de maior democracia.”