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PIB mostra que o estrago da pandemia foi feio em 2020

Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 4,1% no ano passado, totalizando R$ 7,4 trilhões. O índice é o principal indicador de como vai a economia de uma região e mostra nos números divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que o impacto das restrições causadas pela pandemia de covid-19 foi forte.

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O fechamento de bares, restaurantes, escolas, academias e hotéis puxou para baixo o PIB dos serviços, responsável por  72,8% em participação total no valor adicionado.  O setor teve queda no ano passado de 4,5%. “Mesmo quando começou a flexibilização do distanciamento social, muitas pessoas permaneceram receosas de consumir, principalmente os serviços que podem provocar aglomeração”, analisa a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

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A indústria retraiu 3,5%. A agropecuária foi a única a ter resultado positivo, 2%, influenciada pelas exportações de soja e café. 

A queda no PIB nacional de 4,1% é maior dos últimos 30 anos e a terceira mais intensa de toda a série iniciada em 1948. Perde apenas para 1990, com retração recorde de 4,35%, registrada durante o confisco das poupanças pelo governo Collor, e 1981, com tombo de 4,25% em meio à crise da dívida externa.

Mas o resultado de 2020 não é visto como tão ruim assim por economistas e pelo governo. Em junho do ano passado, o Banco Mundial chegou a prever tombo de 8% para o Brasil, projeção que passou para 4,5% em janeiro deste ano. O Relatório de Mercado Focus estimou resultado negativo de 6,5% no meio do ano passado e, na análise mais otimista de janeiro, entre 4% e 5%.

O desempenho brasileiro foi melhor também que a de países da América do Sul, como Argentina (-12,3%) e Colômbia (-6,8%), e Europa, no caso da Espanha (-11%) e Reino Unido (-9,9%).

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“É uma comemoração comedida, uma comemoração conservadora, no sentido de que a retração do PIB foi muito abaixo do que foi estimada”, disse o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues. O presidente Jair Bolsonaro destacou ontem a importância do auxílio emergencial. “Esse dinheiro, quando vai para os municípios, roda a economia local, que interfere na arrecadação de impostos municipais, estaduais e federais também.”

Uma nova rodada de pagamentos da ajuda para a população mais carente é vista como essencial para a economia em momento que muitas cidades passam novamente pelo fechamento dos serviços motivado pela segunda onda de covid-19. “2020 é o ano que não terminou. O ano de 2021 é um ‘repeteco’, e agravado. Estamos vendo uma rebarba forte da pandemia, sem os instrumentos [para mitigar a crise], como o auxílio emergencial, e com o desemprego e a inflação mais elevados. É um 2020 piorado”, afirmou o economista da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda.

O Senado analisava na noite de ontem a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que trará medidas de corte de gastos e permitir o retorno do auxílio emergencial. O texto precisa ainda da apreciação da Câmara. Bolsonaro já afirmou em outras ocasiões que o valor deve ser menor que os R$ 600 e R$ 300 pagos anteriormente. A equipe econômica ainda não informou quais serão as compensações para que os valores sejam liberados sem endividar ainda mais o país.

“O que pode piorar o cenário de PIB em 2021 não é a pandemia, não é a redução dos estímulos, mas uma piora relevante da percepção de risco”, disse o economista da XP Investimentos, Caio Megale, que cita a falta de compensações para o auxílio e a interferência política na Petrobras como fatores dessa percepção.  

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