O ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Benjamin Zymler deu 10 dias para que a secretaria de Saúde da Prefeitura de Manaus responda se o Ministério da Saúde pressionou a capital do Amazonas a usar medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 – como hidroxicloroquina, cloroquina e invermectina – em pacientes internados com o novo coronavírus.
A decisão foi tomada com base em um pedido do Ministério Público de Contas. Essa é apenas uma das investigações abertas para apurar a atuação do governo federal, representado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no combate à pandemia no município, que sofreu um colapso no sistema de saúde em janeiro. A situação desesperadora chegou ao estopim quando começou a faltar oxigênio para pacientes com covid-19. Internados precisaram ser transferidos para UTIs de outros estados. Alguns morreram asfixiados.
O questionamento foi feito pelo ministro do TCU porque uma força-tarefa do Ministério da Saúde visitou a cidade no dia 11 de janeiro, pouco antes do colapso nos hospitais ocorrer.
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“Informe se houve algum tipo de pressão por parte dos membros da força-tarefa do ministério para que as unidades de saúde difundissem a utilização de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e/ou ivermectina no tratamento precoce dos pacientes com covid-19 nesse município”, escreveu Zymler em seu despacho.
Estudos nacionais e internacionais mostram que os medicamentos não são eficazes no tratamento contra o novo coronavírus. OMS (Organização Mundial da Saúde), SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e especialistas não indicam o uso dos fármacos. No entanto, o governo federal sob comando do presidente Jair Bolsonaro defendeu a utilização dos remédios até janeiro, mês em que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que não há alternativa terapêutica que não seja a vacina contra a covid-19.
Outras apurações
Pelo menos outras duas investigações em frentes diferentes apuram a atuação do governo federal no colapso da saúde em Manaus. Uma na PGR (Procuradoria-Geral da República) e outra no STF (Supremo Tribunal Federal). Na última, Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal na semana passada.