A economia brasileira viu seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer ao índice recorde de 7,7%, o maior avanço para um terceiro trimestre desde 1996. A notícia é bastante animadora, mas ainda está longe de salvar o país de um dos piores anos para produção e consumo – um 2020 duramente marcado pela pandemia do novo coronavírus e os isolamentos sociais exigidos pelo vírus.
De acordo com o dado divulgado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o resultado coloca a economia do país no mesmo patamar de 2017, com uma perda acumulada de 5% de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2019.
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“Crescemos sobre uma base muito baixa, quando estávamos no auge da pandemia, o segundo trimestre. Houve uma recuperação no terceiro, contra o segundo trimestre, mas se olharmos a taxa interanual, a queda é de 3,9% e no acumulado do ano ainda estamos caindo, tanto a indústria quanto os serviços”, analisa a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O PIB é um dos principais indicadores utilizados para medir como vai a economia de um país, sintetizando a soma dos bens e serviços finais produzidos em determinado período. O índice brasileiro alcançou R$ 1,891 trilhão, de acordo com o IBGE, órgão oficial do governo que faz a medição.
Os destaques no terceiro trimestre foram indústria e serviços, com avanço de 14,8% e 6,3%, respectivamente. Agropecuária teve recuo de -0,5%, mas o movimento é considerado pelo governo de estabilização, já que o setor é o que menos sentiu os impactos da crise e será o único a fechar o ano positivo, reflexo principalmente das exportações de soja.
Na trave
Apesar do avanço de 7,7% entre o segundo e terceiro trimestre, as projeções do mercado eram de que o Brasil poderia se sair um pouco melhor. A Focus estimava 8,4%, Bloomberg 8,7% e o Estadão Conteúdo, 8,8%. “Bateu na trave”, avaliou o vice-presidente Hamilton Mourão.
O Ministro da Economia, Paulo Guedes, negou frustrações com o resultado e disse que apenas os “negacionistas” não veem a recuperação econômica. “A informação objetiva que sai disso dai é que o Brasil está crescendo forte”, afirmou.
A avaliação da Secretaria de Política Econômica foi de “forte recuperação da economia brasileira”. O órgão de análises do governo vê tendência de crescimento para o último trimestre e 2021, o que em sua visão permite a não prorrogação do auxílio emergencial dado aos mais pobres durante a pandemia.
“O escudo de políticas sociais criado para amenizar o sofrimento econômico e social causados pela pandemia deve ser desarmado, dando espaço para a agenda de reformas estruturais e consolidação fiscal – único meio para que a recuperação se mantenha pujante”, diz o documento.
Economistas veem futuro com pessimismo
Economistas ouvidos pelo Metro Jornal e Rádio Bandeirantes analisam o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre como bom, mas ainda enxergam longo caminho até o fim da crise econômica causada pela pandemia da covid-19.
“É difícil o mercado acertar estimativas com o sobe e desce do ano. A queda foi grande, mas a recuperação veio forte. Pensar que vamos voltar ao pré-pandemia em apenas alguns trimestres é dissociar o mundo da realidade”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira. Ele diz acreditar que o ritmo de recuperação será mais lento nos próximos meses por conta do impacto do fim do auxílio emergencial a partir de janeiro.
O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda José Roberto Mendonça de Barros afirma que o aumento de medidas restritivas nos setores de comércio e serviços também enfraquecerá a recuperação. “O Brasil deu um passo grande para sair da recessão, mas ainda incompleto”, disse sobre o PIB do terceiro trimestre.
O economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) Fabio Bentes analisa a necessidade de mais dois trimestres para a economia se estabilizar.
“Essa desaceleração [nos próximos meses] se deve a dois fatores. Primeiramente, com o avanço de 7,7% do PIB, a base de comparação será maior – o que certamente impedirá o registro de um novo avanço tão significativo. Além disso, o valor do auxílio emergencial – tão importante para a retomada do crescimento – tem sido menor nos três últimos meses do ano. Neste cenário, a volta do PIB ao nível pré-pandemia deverá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano.”