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Qual efeito a pandemia de covid-19 terá no populismo?

Para especialistas, se oposição não apresentar propostas sólidas, governos populistas devem se fortalecer em meio à crise sanitária

O que os políticos da América Latina não conseguiram entender, enquanto se voltavam aos isolamentos totais para combater a disseminação da covid-19, é que essas medidas poderiam alimentar divisões sociais, semeando sua própria condenação. Desde o fim do superciclo das commodities em 2014, a pobreza cresceu gradualmente em alguns mercados, mas a classe média sempre se manteve firme.

“No nível talvez mais básico, esta pandemia revela como muitas sociedades estão quebradas e divididas globalmente”, disse ao Metro Peter Bloom, professor de administração da Universidade de Essex. A pesquisa de Bloom revela a forte relação entre a mercantilização econômica e o autoritarismo político, o “lado oculto” de discursos sobre fortalecimento local.

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Vários especialistas acreditam que cinco meses de confinamento, ainda em curso em alguns países, encerraram mais da metade do progresso feito na redução da pobreza na América Latina nas últimas duas décadas. A reação esperada irá reescrever o mapa político em várias jurisdições.

“O fracasso em manter as pessoas seguras e garantir sua sobrevivência obviamente abre espaço para os movimentos populistas desafiarem os sistemas em nome do ‘povo’, embora quem seja esse ‘povo’ permaneça sempre uma questão política profunda”, acrescenta o professor Bloom.

Mas, por outro lado, “ao mesmo tempo, o relativo sucesso em conter o vírus em certos lugares como Finlândia, Nova Zelândia, Coreia do Sul, China, Vietnã e grande parte do continente africano mostra como governos competentes e tecnologicamente ‘inteligentes’ são mais importantes do que nunca. O que será extremamente interessante é que esta pandemia dará origem a tipos de movimentos que combinam o anti-elitismo do populismo com a demanda por formas de governo inovadoras e eficazes para enfrentar os grandes desafios e as crises da atualidade, sejam econômicas, ecológicas ou de saúde pública”, explica Bloom.

A pandemia teve e terá um efeito significativo sobre governos populistas e para Bloom, eles poderão ficar mais fortes do que nunca. “Em uma época de pandemia, há uma demanda muito maior para que eles realmente resolvam os problemas, em vez de simplesmente resistir a um status quo. Além disso, os esforços típicos para ganhar apoio demonizando certos grupos tendem a ter muito menos apelo quando enfrentados às realidades concretas de muitas pessoas que adoecem e morrem. Dito isso, a menos que os da oposição também ofereçam uma alternativa viável em vez de apenas bons sentimentos e políticas superficiais, acho que os governos populistas poderão continuar a usar isso como uma oportunidade para fortalecer seu poder político”, explica o professor Bloom.

“No curto prazo, os governos populistas podem sofrer com movimentos de oposição que apelam à ‘razão’ ou ‘ciência’, todos os quais são muito importantes”, finaliza Bloom ao dizer que grupos de oposição devem apresentar projetos viáveis a fim de combater o fortalecimento do populismo.

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