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Carne vira item de luxo no prato do brasileiro

Dólar, o vilão. Altas no arroz e no óleo não estão sozinhas: preço dos cortes bovinos acumulam em média 32%

“O brasileiro disputa o bife no prato com o chinês, que leva vantagem neste momento por pagar em dólar.” A análise é do coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Guilherme Moreira. Ela traduz de forma direta como a desvalorização do real impactou no bolso da população e deixou não só arroz e óleo de soja mais caros, mas elevou também o preço das carnes.

De acordo com o levantamento da Fipe realizado em supermercados da cidade de São Paulo, os cortes bovinos chegaram ao fim de setembro com alta acumulada em 12 meses de 32%. Costela e acém ficam bem acima disso, com 51,92% e 46,26%, respectivamente.

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Sobrou até para cortes tradicionalmente mais baratos, como o músculo, que acumula 41,16% de aumento. E se a ideia era trocar a carne bovina por porco ou frango, a má notícia é que eles também tiveram disparada de preço. As aves têm alta em 12 meses de 15,63% e os suínos, 36,79%. O leite não ficou de fora: alta de 30,63%.

Moreira explica que a desvalorização do real frente ao dólar deixou as exportações mais atrativas para os produtores, e acabou encarecendo o produto vendido no mercado interno. Na cotação de ontem, US$ 1 era vendido a R$ 5,60.

“A gente acha que o real desvalorizando só afeta quem viaja, mas esquece desses efeitos que são perversos para os mais pobres. Essa pandemia foi muito desigual. Houve grande impacto nos informais, menos protegidos no trabalho, que tiveram que pagar mais pela alimentação, item que mais pesa no orçamento deles. Por outro lado, os funcionários das grandes empresas estão em home office, reduzindo gastos, e alimentação não pesa tanto. Outros itens usados por eles despencaram, como combustível, passagens aéreas, vestuário.”

O economista cita ainda, como outros fatores que pesaram no preço da carne, o aumento da demanda interna com as pessoas comendo mais em casa e os pagamentos do auxílio emergencial, preços reprimidos durante o ano, além da tendência tradicional de aumento no fim do ano.

A tendência para os próximos meses é que os preços dos alimentos continuem a subir, mas de forma menos intensa, diz o especialista. A expectativa de que o arroz pudesse baixar com a liberação da taxa de importação do cereal até o fim do ano, por exemplo, não se concretizou.

De acordo com o IPC Fipe, o preço do produto subiu 17% no mês passado e já acumula em 12 meses 51,26%.

Cesta básica fica mais cara nas capitais

Outro levantamento sobre o preço dos alimentos, desta vez realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), também mostra continuidade das altas. De acordo com a pesquisa divulgada ontem, a cesta básica ficou mais cara em todas as 17 capitais brasileiras pesquisdas em setembro. Os destaques foram Florianópolis (9,8%), Salvador (9,7%) e Aracaju (7,13%). Em São Paulo, o aumento foi de 4,33%. O preço do óleo de soja aumentou em todas as capitais, com destaque para Natal (39,62%), assim como o valor médio do arroz agulhinha, que teve aumento maior em Curitiba (30,62%). No caso do óleo, a alta foi ocasionada pela baixa dos estoques, consequência da demanda externa e interna. O arroz foi influenciado pelo elevado volume de exportação  em função da desvalorização do real, baixando o estoque.  

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