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Desemprego na pandemia impacta mais as mulheres

Edson Lopes Jr/A2AD

A presença feminina no mercado de trabalho foi mais atingida pelos reflexos da pandemia do novo coronavírus que a masculina. Entre os fatores que podem explicar mais demissões no período estão a grande quantidade de mulheres no setor informal, de serviços e domésticos, os mais impactados pelo isolamento, além da dificuldade para conciliar a vida no lar com o emprego após o fechamento das escolas.

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De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados ontem, enquanto a taxa de desocupação entre eles foi de 11,7% em agosto, elas alcançaram 16,2%, recorde desde maio, quando o instituto passou a realizar a pesquisa especial sobre covid-19.

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Em maio, a diferença entre os sexos que hoje alcança 4,5 pontos percentuais era de 2,6 pontos. Em três meses, 1,5 milhão de mulheres entraram na fila do desemprego, de acordo com os dados do IBGE.

Há ainda um número grande de trabalhadoras que não procuraram por emprego na semana pesquisada pelo órgão e por isso não aparecem na contagem de ocupados e desocupados. Mas responderam que gostariam de trabalhar. Dos 27 milhões de brasileiros nessa situação, 61% são mulheres.

Para pesquisadores do mercado de trabalho, a pandemia contribuiu para aumentar o abismo já existente entre homens e mulheres.

A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Maria Lucia Vieira, afirma que a grande presença feminina na informalidade é o principal fator para elas serem mais afetadas. “A pandemia evidenciou as diferenças no mercado. E mesmo as que continuaram trabalhando tiveram que organizar mais seu tempo cuidado das crianças e dos afazeres domésticos.”

O coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, lembra também da alta taxa de participação das mulheres no trabalho doméstico, outro setor bastante impactado.

Ele vê ainda mais mulheres em busca de trabalho neste momento para contribuir em casa. “Houve queda forte na renda das famílias brasileiras. Com a retomada da atividade econômica, mulheres que não trabalhavam estão buscando ajudar.” Para o professor, o home office pode contribuir para que no futuro mais mulheres se coloquem no mercado. “É uma nova jornada, com mais possibilidades de se organizar em casa com as demais tarefas.”

Retorno difícil

Bianca Rapini está desempregada desde o final do ano passado e quer voltar a trabalhar. O marido teve redução de salário na pandemia. Mas com as escolas fechadas, ela é obrigada a ficar em casa para cuidar dos filhos, o que torna impossível a recolocação.

Nos últimos meses, o número de mulheres demitidas é maior do que o de contratadas em várias regiões do país, apontam os dados do Caged, cadastro federal de vagas formais. Na cidade de São Paulo, o saldo entre demissões e contratações voltou a ficar positivo para os homens desde junho. Já para as mulheres, o balanço de julho foi negativo em 6.205 postos.

Um dos motivos, segundo a coordenadora de Cadastros, Identificação Profissional e Estudos do Ministério da Economia, Mariana Eugênio, é o efeito da pandemia nas áreas que mais empregam mulheres. Com a retomada econômica, as oportunidades, aos poucos, voltam a surgir. Depois de um ano desempregada, Michelle Bisto conseguiu uma vaga como operadora de caixa.

Já as mães que não têm com quem deixar os filhos terão que aguentar mais um pouco para poder voltar.  Maira Di Giaimo, Rádio bandeirantes

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