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Ingestão de alimentos industrializados aumentou durante pandemia

Bolachas e guloseimas industrializadas Tetiana Shyshkina/Unsplash

Uma pesquisa encomendada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) ao Ibope retrata a mudança dos hábitos alimentares dos brasileiros durante a pandemia – desde a escassez de renda para comprar comida, até a adoção de alimentos menos saudáveis e mais baratos no dia a dia.

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Os dados mostram que, desde o início da crise sanitária no país, pelo menos 33 milhões de brasileiros ficaram sem dinheiro para reabastecer suas casas com comida em algum momento. Outros 9 milhões deixaram de fazer alguma refeição porque não havia comida para toda a família.

As famílias com crianças ou adolescentes mudaram ainda mais seus hábitos alimentares do que aquelas compostas apenas por adultos (59% ante 49%). A pesquisa mostra que famílias com jovens de 0 a 17 anos estão mais vulneráveis durante a pandemia em todos os cenários analisados e afirma que crianças e adolescentes são «vítimas ocultas da pandemia».

O grupo também é o que apresenta o maior aumento no consumo de alimentos industrializados (31%), como macarrão instantâneo, biscoitos recheados e enlatados; de fast food (20%), como hambúrgueres, esfihas etc.; e refrigerantes (19%).

«A má nutrição é apresentada em duas dimensões: a mudança de hábitos alimentares e a redução do acesso a alimentos, a fome. São duas situações extremamente preocupantes», afirma Cristina Albuquerque, chefe de saúde do UNICEF no Brasil. Ela observa que o aumento no consumo de comidas processadas leva a uma dieta com poucos nutrientes, rica em sódio e gordura, o que pode acarretar aumento nos índices de obesidade infantil.

«A gente precisa fazer um nexo entre esses 9% que foram privados de alimento com relação à redução da renda nessas famílias», aponta Cristina. De acordo com a pesquisa, pelo menos 63% dos brasileiros que têm uma criança ou adolescente em casa tiveram queda no rendimento familiar após o início da pandemia. Desses, 21% estavam trabalhando antes da covid-19 e não estão mais.

Os motivos mais citados para diminuição de renda no grupo foram a redução do salário e do horário de trabalho de alguém da família; a suspensão do emprego, mesmo que temporária; e a impossibilidade de trabalhar, por falta de transporte ou adoecimento. Ainda dentre as famílias com crianças e adolescentes, 37% tiveram perda de pelo menos metade da renda.

«Precisamos pensar também em ajustar os programas de assistência com base nas famílias com crianças e adolescentes. O Brasil tem ampla experiência em proteção social e o benefício emergencial mostrou que isso é possível de ser feito. Principalmente em longo prazo, porque essa crise não vai terminar tão cedo», explica Liliana Chopitea, chefe da área de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação, e Cooperação Sul-Sul do UNICEF no Brasil.

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