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Eleição norte-americana entra nos seus 100 últimos dias

Em meio a pandemia de covid-19, as eleições norte-americanas estão marcadas pelas tensões raciais, econômicas e empregatícias no país. Além da disputa para o próximo presidente dos Estados Unidos, 435 assentos na Câmara dos Deputados, 35 dos 100 assentos no Senado e 13 governos estaduais e territoriais também serão decididos no próximo dia 3 de novembro. Enquanto o presidente republicano Donald Trump busca a reeleição, o ex-vice-presidente do Partido Democrata, Joe Biden, entra na votação para tentar ocupar o cargo de seu antigo companheiro de chapa, Barack Obama. De acordo com Justin Levitt, reitor associado de pesquisa e professor de direito da Universidade Loyola Marymout, na Califórnia, por mais que existam diversos fatores atuais de tensões nos EUA, como corrupção, meio ambiente e saúde, a disputa presidencial ainda está marcada entre eleitores que se identificam fortemente ou são contra a postura de Donald Trump “A pandemia mudará a maneira como muitos americanos votam, e a escala dessa mudança é algo que provavelmente testará a resiliência da própria estrutura eleitoral”, explicou ele ao Metro Jornal. “O presidente Trump fez a eleição se tornar sobre ele: a votação provavelmente será definida pela forma como os eleitores apaixonadamente se identificam a favor ou contra Donald Trump”, explica o professor ao mencionar que, desta vez, Trump deixa de ser considerado um personagem de fora da política norte-americana e se torna o atual titular. Em uma recente pesquisa divulgada pelo Instituto YouGov com recorte de 1.500 norte-americanos, o democrata Joe Biden está a frente de Donald Trump por nove pontos percentuais. Entre os eleitores de Biden estão, em sua maioria, mulheres, jovens com menos de 30 anos, negros, latinos e americanos com ensino superior. Em contrapartida, Trump lidera entre americanos brancos com mais de 65 anos e sem ensino superior completo. De acordo com a doutora em direito internacional, Priscila Caneparo, existe um eleitorado fiel a Donald Trump desde 2016. Chamados por especialistas como “o bloco”, eles são re- sidentes de estados com maior proporção de eleitores conservadores. “Os eleitores do bloco representam 40% do eleitorado norte-americano. Alguns estados também apoiam, naturalmente, o candidato. São eles: Texas, Arizona e Flórida”. Entrevista com Priscila Caneparo Doutora em direito internacional e professora da UNICURITIBA Qual a diferença desta eleição para 2016? No contexto de 2016, existia a perspectiva de continuidade do governo democrata que teve dois mandatos com o presidente Barack Obama. Mas a história é um pêndulo e, querendo ou não, estava na hora dos republicanos assumirem o poder. Por mais que o Obama tenha pego os EUA em uma crise econômica e conseguido reestruturar, isso não fez com que houvesse atenuação das desigualdades. Foram gerados mais empregos, mas as desigualdades foram aprofundadas, o que acabou por trazer um patamar movediço para o Partido Democrata nas eleições de 2016. Na eleição de 2020, o contexto é outro. Observamos a perda do poder do discurso do Trump porque muito do que foi falado não foi feito, principalmente as relações de ódio como o muro que dividiria os EUA e o México. E em contexto pandêmico, Trump enfrentará um grande desafio pela frente e que pode gerar um impacto presidencial inenarrável. Em uma possível vitória de Joe Biden, o que isso significaria para a política externa brasileira? Mudará muita coisa em relação a política externa brasileira. Sabemos que o governo brasileiro não se alinha efetivamente aos Estados Unidos e sim a governança trumpista. Quando temos esse recrudescimento do governo democrata em uma possível vitória de Joe Biden, a postura norte-americana deve mudar deste extremo nacionalismo atual que privilegia países historicamente alinhados. Com a vitória de Joe Biden, é histórico que ele tente uma reaproximação com o Irã e dará continuidade a política alinhada ao governo Obama em relação a Cuba. Entretanto, essa não é a política externa brasileira que condena o globalismo. Dessa maneira, teremos que dar uma virada substancial na política externa em termos ideológicos. Mas não sei se o Brasil está disposto a fazer isso. Se não o fizer, com certeza os Estados Unidos não serão mais aliados do governo Bolsonaro. O que pode ser decisivo na eleição de ambos os candidatos nestes últimos 100 dias de campanha presidencial? Com Donald Trump, é preciso ficar de olho ao discurso dele frente às atividades econômicas dos estados do sul, que nesse momento são considerados epicentro da pandemia de covid-19 no país, e aos índices de desemprego que representam um impacto importante frente à corrida presidencial. Além de acompanhar como o governo Trump se comportará frente a uma possível vacina contra o coronavírus, é ainda mais relevante entender como ficará esta crise diplomática entre EUA e China e se isso impactará o comércio norte-americano. Com o fechamento de embaixadas, o fato tem grande influência na corrida eleitoral. Em contrapartida, em nome do Partido Democrata, existem as acusações de agressão sexual contra Joe Biden. Todos estes pontos serão cruciais nestes últimos 100 dias pré-eleição.

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