Com o objetivo de monitorar e estudar cientificamente os movimentos da ultra direita (direira radical e extrema direita), o professor de relações internacionais da PUC-SP e FAAP, David Magalhães, criou, junto dos professores Guilherme Casarões e Odilon Caldeira Neto, o Observatório da Extrema Direita. Para entender sobre do que se trata este movimento e que relação ele tem com as recentes eleições na França, Polônia e Estados Unidos, em novembro, o Metro Jornal conversou com David Magalhães.
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O Observatório
“Mais do que algo especificamente acadêmico, a ideia do Observatório é criar diversas interfaces com a sociedade civil e o público mais amplo. O objetivo é não se isolar academicamente e, inclusive, compreender que esse é um problema que tem levado certas figuras a preencherem espaço que não têm sido preenchidos por acadêmicos ou pesquisadores. Fazer pesquisa científica séria, com rigor e método, mas sem abrir mão desse diálogo permanente com a sociedade civil.”
Presença do movimento
“Temos uma pequena onda pós-fascista de organizações que eram residuais do fascismo na Itália, França e Leste Europeu entre os anos 50 e 60. Nos anos 70, temos a criação de partidos nacionais populistas, como a Rassemblement National na França (atual partido de Marine Le Pen). E entre as décadas de 80 e 90 temos algumas vitórias, não eleitorais, mas de ascensão eleitoral destes partidos. Até que, de 2008 para cá, digamos que surfando na crise financeira de 2008 e na crise de refugiados em 2014, potencializa o sentimento nativista e xenofóbico de partidos e da sociedade europeia que dá força para a ascensão de partidos da direita radical na Europa.”
Previsões
“Ainda é bastante precipitado construir cenários para a direita radical, principalmente profetizar um eventual declínio, já que os efeitos econômicos e sociais da pandemia ainda vão ser sentidos. Mas é justamente neste cenário de caos e anomia social que a direita radical consegue, ao propor fórmulas simplórias e discurso de ordem em uma retórica, embora ilusória, ter bastante receptividade por um público que atua de acordo com o medo.”
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Possível vitória de Biden
“Entendo que uma vitória do Joe Biden nos EUA tenda a desacelerar, de forma geral, a ascensão da direita radical no mundo. Não tenho dúvida disso. Desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm sido o arquiteto de uma ordem internacional liberal e isso só foi uma exceção no governo Trump. Portanto, a retomada de um governo liberal nos EUA tende a colocar freios em uma direita radical. Não acho que vai parar, pois existem outras razões estruturais, políticas, econômicas e culturais mais profundas que explicam essa ascensão da direita radical e extrema direita no mundo. Mas tende sim a desacelerar.”
Consequências de Biden para Bolsonaro
“A política externa do Bolsonaro é ancorada no eixo de relações preferenciais com a figura do Trump. Nem mesmo com o governo norte-americano, mas sim com a figura pessoal do Trump. Então, uma vez que Trump pode sair do poder e a oposição chegar à Casa Branca, isso pode implicar em asfixia e isolamento da política externa brasileira no sistema internacional bastante significativos.”