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Renúncia ou golpe na Bolívia? Entenda o processo que levou à saída de Evo Morales

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou sua renúncia ao cargo ontem para “acabar com a violência”, em meio a uma onda de protestos deflagrada no país. O vice-presidente, Álvaro García Linera, também apresentou sua renúncia. A presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, María Eugenia Choque Quispe, que também havia renunciado, foi presa.

O líder boliviano garantiu que seu governo experimentou “um golpe político, cívico e policial”. “Estou enviando minha carta de renúncia à Assembleia Legislativa da Bolívia”, disse Morales, acrescentando que deixava o cargo para que “irmãos e irmãs, dirigentes e autoridades não sejam castigados, perseguidos e ameaçados”.

“Quero dizer a vocês, irmãs e irmãos, que a luta não termina aqui. Os humildes, os pobres, os setores sociais, vamos continuar com essa luta pela igualdade, pela paz”. O chefe de estado acusou-os de serem responsáveis pelos violentos protestos contra ele, desencadeados no dia seguinte às eleições de 20 de outubro, após a controversa contagem de votos.

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O pleito anterior garantiu a vitória de Evo com 47,07% dos votos contra 36,51% do opositor Carlos Mesa. O resultado elegeu o atual líder boliviano para assumir seu quarto mandato. Segundo os números, Morales venceu pela diferença mínima de 10% dos votos.

O resultado provocou uma polêmica no país e foi fortemente contestado pela oposição. Somente no dia 30 de outubro, a Bolívia e a OEA chegaram a um acordo para realizar uma auditoria (quadro abaixo). Evo Morales foi o primeiro presidente indígena da Bolívia e esteve no poder por 13 anos e nove meses, o mandato mais longo da história do país sul-americano. Ontem cogitava-se que o ex-presidente deve ir para a Argentina, cujo recém-eleito presidente, Alberto Fernández, é um aliado.

Não está claro quem substituirá Morales, mas analistas dizem que uma das vias constitucionais seria que a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, assumisse o cargo. E ainda não há uma data para que ocorram as novas eleições presidenciais na Bolívia.

Entenda a crise

2016
Evo Morales perde consulta popular sobre direito ao quarto mandato e recorre à Justiça

2018
Tribunal Constitucional permite que Evo concorra ao quarto mandato

2019
20.10 • Eleições presidenciais e interrupção da contagem de votos após uma prévia indicar necessidade de 2º turno
21.10 • Retomada da contagem de votos
23.10 • Início dos protestos contra possível manipulação de votos a favor de Evo Morales
24.10 • Vitória de Evo é anunciada; protestos se tornam mais violentos
30.10 • Governo e OEA (Organização dos Estados Americanos) iniciam auditoria das eleições
08.11 • Polícia de Cochabamba, Sucre e Santa Cruz anunciam que não irão mais reprimir os manifestantes
09.11 • Polícia de La Paz adere à decisão

No domingo (10)
• Auditoria da OEA diz que houve fraude nas eleições
• Evo Morales anuncia a dissolução do Tribunal Superior Eleitoral e a convocação de novas eleições
• Chefes das Forças Armadas e da polícia pedem que Evo deixe o cargo
• Evo Morales renuncia ao cargo em rede nacional
• Vice-presidente, Álvaro García Linera, e três ministros também renunciam
• Novas eleições não têm data definida para ocorrer

Sobre a Bolívia

Área: 1.098.581 km2
População: 11 milhões
Capitais: Sucre (constitucional) e La Paz (governo)
Maior cidade: Santa Cruz de la Sierra (1,4 milhão de habitantes)
PIB per capita*: US$ 3.581
Inflação*: 1,3%
Desemprego*: 4,1%
Analfabetismo: 3,8%
IDH: 0,693

*2018

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