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Intoxicação por gás no chuveiro pode ser causa de morte de família em Santo André

Quatro pessoas da mesma família foram encontradas mortas no apartamento onde viviam, na Vila Bastos, em Santo André, na manhã de domingo (14). A principal hipótese trabalhada pela polícia é de que elas tenham sido vítimas de intoxicação por conta de vazamento de gás no chuveiro. Se confirmada a causa, as mortes de brasileiros por inalação de monóxido de carbono podem chegar a 15 apenas neste ano.

As vítimas de Santo André são um casal e os filhos de 3 e 14 anos. A polícia afirma que a irmã da mãe das crianças foi quem os encontrou, já sem vida. A mulher estava no chuveiro, o homem no sofá abraçado com o filho de 3 anos e a adolescente dormia em uma beliche.

O delegado do 1º Distrito Policial, onde o caso foi registrado, Roberto Von Haydin, disse que não havia sinal de violência nos corpos. “Pelo que o perito me disse, a morte ocorreu de sexta para sábado. Como não temos ainda recursos para medir o monóxido de carbono, que pode ter sido produzido pela queima dos gases, vamos providenciar equipamentos  pelo IC [Instituto de Criminalística] para verificar. Uma coisa que eu observei no apartamento que está totalmente errada é que o aquecedor a gás não possui chaminé. Como o apartamento estava totalmente fechado, pode ser envenenamento pela ingestão do monóxido de carbono. Porém, o perito é quem vai afirmar o que houve. Ao que tudo indica, pode ter sido gás, mas investigamos todas as possibilidades, como envenenamento e outras causas.”

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De acordo com o delegado, a família tinha acabado de voltar de viagem à Disney, nos Estados Unidos, e ainda não havia desfeito as malas. As identidades não foram reveladas. Von Haydin disse apenas que a família é oriental e tem sobrenome conhecido na região. “A irmã que encontrou os corpos está em estado de choque.” Familiares disseram à polícia que o passarinho da família morreu recentemente e que os quatro também passaram mal e foram ao médico, que não detectou possível intoxicação.

O delegado afirmou que, em depoimento, o síndico disse que já havia alertado a família há dez anos sobre os riscos de não ter a chaminé no aquecedor. O apartamento foi lacrado para novas perícias.

Outros casos

Em maio deste ano, seis brasileiros da mesma família, com idades entre 13 e 41 anos, morreram por intoxicação de monóxido de carbono em um apartamento em Santiago, no Chile, onde passavam férias. Um mês depois, pai e filha, de 58 e 9 anos, foram encontrados sem vida em Campos do Jordão, interior de São Paulo. A suspeita é de que tenham sido intoxicados após vazamento de um aquecedor de ambiente que funciona com gás de cozinha. No dia 9 deste mês, um dos mais frios do ano, um casal e uma criança de 2 anos morreram asfixiados ao manter uma churrasqueira acesa no quarto onde dormiam em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Monóxido ocupa lugar do oxigênio em locais fechados

Quando uma pessoa inala monóxido de carbono em quantidades maiores do que o organismo suporta, ela pode morrer asfixiada.
Segundo o pneumologista Humberto Bogossian, do Hospital Albert Einstein, o monóxido de carbono liberado em queimas como as de lareiras a gás ou até por um carro ligado em ambiente fechado entra na corrente sanguínea. A substância tem alta afinidade com a hemoglobina e interfere no mecanismo de levar oxigênio aos tecidos.
“O monóxido de carbono ‘gruda’ na hemoglobina e ocupa o lugar do oxigênio no sangue”, afirmou. Se houver contato com o gás por muito tempo, é possível ficar sem oxigenação e morrer. Como o monóxido de carbono não tem cheiro, a pessoa não percebe sua presença no ar.
Luiz Philipe Molina, cirurgião plástico especializado em queimaduras do Hospital 9 de Julho, explica que quando a concentração de oxigênio no sangue cai demais, a pessoa já tem desmaio, perde a consciência e normalmente não há mais o que fazer, pois ela não conseguirá pedir ajuda. “Quando começam os sintomas, como tontura e mal estar, é muito rápido para progredir para o desmaio.”
Bogossian explica que, quando consegue ser socorrido, o paciente intoxicado precisa receber oxigênio. As consequências variam com o tempo em que ficou exposto ao monóxido de carbono e à sua condição de saúde, mas pode entrar em coma e ter alterações psiquiátricas.

Ventilação evita problema

Checar a ventilação de ambientes é a chave para se precaver de acidentes com monóxido de carbono. No caso de quem vai para locais mais frios, em que há sistemas de aquecimento a gás, o engenheiro Carlos Cotta, coordenador da Divisão Técnica de Engenharia de Incêndio do Instituto de Engenharia, recomenda conferir se há entrada e saída de ar adequados onde estão os aparelhos a gás e se não há odor de vazamento. Ele diz que há aparelhos portáteis, vendidos a partir de R$ 120 na internet, que fazem a medição do gás no ambiente. “Vale lembrar que eles são simples, servem apenas para ambientes pequenos e devem ser utilizados à meia altura.” O porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Marcos Palumbo, afirma que a queima de gás de botijão ou natural não deixa resíduo e tem como produto o monóxido de carbono, que pode intoxicar. “Precisa ter ventilação permanente, a saída do gás não pode ser obstruída, o duto tem que sair do ambiente.” metro

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