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Polícia Federal vai investigar sites que vendem dados pessoais

A Polícia Federal vai investigar as denúncias feitas pela BandNews FM sobre a venda de dados pessoais na internet, inclusive do presidente Jair Bolsonaro, de listas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e do Hiscon – o Histórico de Consignações. O esquema funciona por meio de sistemas, parte deles escondidos na web.

Segundo o delegado da PF Marcelo Ivo de Carvalho, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado de São Paulo, o material colhido pela BandNews FM vai ajudar na investigação.

“O material será recebido e encaminhado para Superintendência do Mato Grosso, onde já existe uma investigação que apura os fatos mencionados na reportagem. É uma prática ilegal”, afirmou. A apuração foi aberta em 2018, mas a operação, denominada Data Leak, chegou a apenas dois dos oito sistemas descobertos pela BandNews FM.

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O esquema

Durante quatro meses, a BandNews FM investigou o esquema de venda de dados pessoais na internet. Eles são extraídos até mesmo de serviços federais, como o INSS e as Forças Armadas. Nem mesmo autoridades como o presidente Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, estão protegidas.

Os dados reúnem números de telefones – celulares ou fixos –, CPFs, RGs, endereços, dados bancários, salário e ainda informações de parentes.
Tudo isso é negociado diariamente por sites, que são utilizados, na maioria das vezes, por empresas de telemarketing em todo o Brasil.
Pelo Hotfone, nome dado aos sistemas que permitem a consulta de dados pessoais, é possível encontrar qualquer pessoa. Qualquer mesmo.

Parte das páginas nem sequer aparece nas buscas do Google, para não levantar suspeita. A partir de grupos no Whastapp, a BandNews FM fez investigações e identificou pelo menos oito sistemas. A maioria se abastece com informações colhidas em servidores utilizados pelo INSS, Forças Armadas ou do serviço federal. Outros têm banco de dados próprio e não está claro qual a origem dos dados.

Compra por pacote

O preço varia conforme o tipo de pacote: há sites com planos mensais, que podem custar entre R$ 75 e R$ 100, e há a possibilidade de comprar um número fechado de consultas. Uma mulher que comercializa acessos ao site Consulta Mais ofereceu 1 mil consultas por R$ 300. A BandNews FM também chegou aos sites Multibr, Hotfone, ADV Gestor, Unitfour, 3C Sistemas e Assertiva.

Um dos chefes do esquema, Eledovino Basseto Júnior, chegou a ser preso na Data Leak, mas foi solto e voltou ao mercado. Ele controla os sites Hotfone.co e Multibr. Nos sites controlados por ele, a reportagem fez buscas e obteve acesso a informações do presidente Bolsonaro, do vice Hamilton Mourão (PRTB) e do ministro Moro.

Governo investigará

Presidente do Dataprev, órgão responsável por guardar dados do INSS, Christiane Edington disse que a denúncia será investigada. Ela disse que essa é umas das principais preocupações, pois um dos funcionários chegou a ser preso na Data Leak.

Listas de consignado e de INSS são negociadas

O Histórico de Consignações, que reúne empréstimos consignados obtidos por aposentados e pensionistas, é sigiloso e só poderia ser obtido pelo segurado. Em grupos de Whatsapp, aos quais a BandNews FM teve acesso, a negociação corre livremente. Em média, cada consulta de Hiscon custa R$ 1,50. Quem vende garante que a informação é oficial.

Uma vendedora ofereceu lista com 34 mil benefícios recém-concedidos pelo INSS. “O que você quer? Entrantes? Eu tenho até o dia 17.”

O presidente do INSS, Renato Rodrigues Vieira, reconhece que há vazamento de dados usados na concessão de crédito consignado e diz que o órgão criou uma força-tarefa para identificar e punir os responsáveis.

Em nota, a Dataprev esclarece que o Hiscon só pode ser obtido nas agências ou no site do INSS com login e senha do usuário.

Empresas negam fazer comércio

Um dos alvos da operação Data Leak, a Datweb, do site ADV Gestor, negou a venda de qualquer informação sigilosa e disse que o sistema foi criado para automatizar as atividades desempenhadas por correspondentes bancários. A empresa disse que a base de dados é colaborativa e que atua no desenvolvimento de softwares para o mercado de call center há mais de 15 anos.

A 3C Sistemas disse que está melhorando o controle de acesso ao sistema e que atua no gerenciamento e não na venda de informações. A companhia afirmou que trabalha dentro da lei, só com pessoas jurídicas e que não oferece mais o serviço.

Em nota, a Assertiva negou qualquer irregularidade e disse que atua no segmento de proteção ao crédito, assessorando os clientes com informações “não sensíveis”, “públicas” e estritamente essenciais ao mercado, cumprindo a legislação em vigor.

A Unitfour afirmou que seu banco de dados é proveniente de fontes públicas, ações promocionais, parcerias, cadastros online e mídias sociais; diz ainda que cumpre a legislação em vigor. A Viper não foi localizada.

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