Em mais um dia de buscas intensas em meio à lama, os bombeiros que atuam em Brumadinho, na Grande BH, conseguiram localizar os corpos de mais 19 vítimas soterradas após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, na última sexta-feira (25). Até a noite de terça-feira (29), o desastre contabilizava 84 mortos, 276 desaparecidos e 176 pessoas desabrigadas. Desde sábado, ninguém é encontrado com vida.
Os trabalhos de terça se concentraram em 14 áreas prioritárias, entre elas o refeitório da mineradora, um ônibus que transportava funcionários da mina e a região da Pousada Nova Estância. Três corpos foram localizados no veículo, e duas vítimas do refeitório também foram encontradas. Na área da pousada, a busca dos bombeiros resultou na localização de ao menos quatro corpos.
Além dos desafios de enfrentar a lama, a equipe dos militares também precisou lidar com intrusos. Segundo os Bombeiros, três pessoas partiram em busca de parentes na mata e foram atacadas por marimbondos. Elas precisaram ser encaminhadas para atendimento – os ferimentos foram graves. Para o socorro, foi necessário o deslocamento de um helicóptero que estava sendo utilizado nas buscas aos desaparecidos.
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‘Nossa paz acabou’
Apesar de fazer parte da região metropolitana de Belo Horizonte, Brumadinho sempre foi uma cidade onde a tranquilidade remetia aos ares do interior. Para os que sobreviveram ao desastre, essa paz praticamente acabou.
No bairro Parque das Cachoeiras – uma das áreas mais atingidas pela lama –, vizinhos ainda tentam se adaptar à nova rotina. “Esse lugar era lindo, adorava acordar de manhã com o som do trem passando, mas agora é helicóptero o dia inteiro e esse aperto no coração”, conta Célia Duarte, de 55 anos. “Claro que o motivo deles voarem por aqui é nobre, e queremos que todos sejam encontrados, mas nossa rotina talvez nunca volte ao normal”, lamenta.
Na casa onde a família costumava passar os fins de semana, o quintal foi tomado pela lama e o imóvel precisou ser esvaziado devido ao risco de um novo rompimento. “Minha mãe de 85 anos, que usa bengala, precisou sair correndo quando a lama chegou. Meu cunhado ainda voltou para buscar os cachorros. De início ele achou que era o trem descarrilando, mas quando viu a lama de perto já lembrou do ocorrido em Mariana e na hora já imaginou que poderia ser a barragem da Vale”, conta Célia.
Além da mudança na rotina, os moradores da região ainda tentam se habituar com a idea de perder vizinhos e pessoas próximas. São raros os casos de alguém que não conhece um dos desaparecidos em meio à lama. Na estrada que dava acesso à pousada Nova Estância, Maria Beatriz, de 70 anos, e sua neta acompanham de perto o trabalho dos bombeiros na esperança de encontrar a vizinha que trabalhava na Vale. “A gente está dando o apoio para a mãe dela, que é uma senhora de idade, e estamos aqui para saber de alguma coisa. Enquanto não acha, a gente ainda mantém esperança. Se tiver 1% de chance, a gente confia”, diz, ainda otimista.