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No Museu da Língua Portuguesa, operários da reforma têm oficinas em que aprendem artes

Aldemar Rodrigues tem 41 anos. Há 12 anos, saiu da capital paraense, Belém, para tentar a vida em São Paulo. Tornado pintor de paredes, já trabalhou nas obras de dezenas de edifícios erguidos na cidade. Acostumado aos pincéis grossos e aos rolos de lã embebidos em tinta, manuseou desengonçado os pincéis finos usados para contornar os delicados desenhos que aprendeu a fazer.

O ateliê onde o Aldemar pintor de paredes foi apresentado ao Aldemar pintor de figuras fica no mesmo lugar em que o artista estreante cumpre sua lida diária: o canteiro de obras do Museu da Língua Portuguesa, na estação da Luz (centro).

O museu, destruído por incêndio em dezembro de 2015, caminha para ser reaberto no segundo semestre de 2019. Quando isso acontecer, centenas de operários que atualmente participam da reconstrução poderão visitar o lugar onde receberam as primeiras lições sobre arte. “É sobre se reconhecer como humano, descobrir habilidades e formas de expressão que raramente fazem parte do dia  a dia desses homens”, conta Caio Salay, 31, arte-educador que ministra as oficinas quinzenais para os operários.

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O projeto, chamado Canteiro das Artes, foi desenvolvido pela Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Mestres da Obra, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, responsável pela concepção e realização do museu. “Nossa ideia é valorizar o operário, torná-lo parte do que se faz na obra. Construir um museu deve ser diferente de construir um prédio de escritórios. É um lugar público, transformador, e a grande maioria dos funcionários da obra nunca tinha pisado num museu até fazer parte da reconstrução”, disse Deca Farroco, 42,  gerente de projetos de patrimônio e cultura da Fundação Roberto Marinho.

Cada oficina tem duração de quatro horas. Começando sempre às 14h, as aulas acontecem durante o expediente e contam como horas trabalhadas. Cada aluno tem que se inscrever para participar das oficinas, que são sucesso de público.  “Cerca de 90% dos operários já participaram. Logo muitos participarão pela segunda vez”, comemora Deca.

Hugo Rodrigues, 23, participou da oficina e aprovou. “É interativo, são diversas opções para experimentar e se divertir enquanto a gente trabalha”, afirmou.

Até o momento já aconteceram 15 aulas, que devem prosseguir pelos próximos meses. Em maio, uma exposição deve ser montada no espaço para exibir as obras feitas pelos funcionários. “Eles usam resíduos da própria construção e ressignificam todos os objetos. É isso o que queremos, que eles consigam olhar sob uma perspectiva diferente esses objetos que fazem parte do cotidiano da profissão”, diz Salay. O educador conta que alguns operários levam ao ateliê obras feitas por eles fora daquele espaço.

Aldemar, aquele do início deste texto, confidencia ser mais um a usar o tempo livre para produzir arte e exibir no ateliê. “Eu tenho umas letras de música que fiz… vou trazer pra cá.” 

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