O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou nesta terça-feira, em Estocolmo, na Suécia, que a ideia de conceder indulto ao ex-presidente Lula, caso se eleja presidente, seria "uma loucura". Parte do PT tem pressionado candidatos da esquerda a se comprometerem com um eventual perdão judicial ao ex-presidente caso vençam a disputa.
"Se eu prometesse indulto a Lula, eu estaria agindo contra ele, que é meu amigo há mais de 30 anos", disse o pedetista em resposta à pergunta de um brasileiro durante uma palestra. "Indulto é apenas para aqueles que já foram condenados em todas as instâncias. E Lula ainda está recorrendo da decisão que o condenou. Portanto, se eu disser que daria indulto a Lula caso for eleito, Lula poderia me mandar para a puta que pariu. Ou seja, ele teria uma reação adversa, e diria, ‘Porque vai me indultar? Sou inocente’."
Apesar da aparente defesa da inocência do petista, o pré-candidato criticou o fato de o nome de Lula ainda constar dos cenários eleitorais das pesquisas de intenção de votos para as eleições presidenciais de 2018.
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"Qualquer pesquisa que comece colocando o ex-presidente Lula no universo pesquisado vai deformar tudo o mais. Enquanto não houver a possibilidade de se comparar aqueles que vão se apresentar na disputa eleitoral, as pesquisas vão continuar sendo apenas um retrato do momento", disse Ciro à BBC Brasil, durante evento realizado na Câmara de Comércio Brasileira na Suécia (BrazilCham).
"Porque é pacífico, entre todos que estudamos Direito, que a Lei da Ficha Limpa o impedirá de ser candidato. E enquanto isso não for resolvido, uma das principais, senão a principal força do campo progressista, fica paralisada. E isso deforma tudo o mais", acrescentou Ciro.
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As declarações foram feitas um dia depois da divulgação da pesquisa CNT/MDA, que apontou a liderança de Lula na corrida presidencial com 32,4% das intenções de voto. Atrás de Lula – preso desde o dia 7 de abril em Curitiba – aparecem o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) com 16,7%, a ex-ministra Marina Silva (Rede) com 7,6%, Ciro Gomes com 5,4% e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), com 4%. Em um cenário eleitoral sem o ex-presidente, segundo a mesma pesquisa, Bolsonaro figura em primeiro lugar com 18,3% das intenções de votos, seguido pelos ex-ministros Marina Silva (11,2%), e Ciro (9,0%), o que caracterizaria um empate técnico.
Na visão de Ciro, a insistência do PT com a candidatura de Lula segue uma "lógica perigosa". No partido, a discussão sobre o plano B tem sido interditada por lideranças como Gleisi Hoffmann, que preside a legenda. Parte dos petistas, como o ex-governador da Bahia Jacques Wagner, tem defendido conversas com Ciro.
"Estão repetindo a ideia de que vão manter a candidatura de Lula, não sei até que limite. Essa lógica que eles adotaram é perigosa. E evidentemente, conhecendo a vida como eu conheço, tenho sentido a minha responsabilidade crescendo muito. E tenho conversado com todo mundo. Com o PSB, com o PCdoB e com frações ou corpos inteiros de outros movimentos ao centro e à direita", disse o pedetista.
Ciro Gomes classificou ainda como um "equívoco perigoso" a palavra de ordem "Eleição sem Lula é fraude", adotada por setores da esquerda.
"Isso é um equívoco grosseiro", disse o pré-candidato. "Porque as eleições são a única saída através da qual o Brasil pode se livrar de uma agenda que nos foi imposta pelo golpe, que é uma agenda extraordinariamente amarga – anti-pobre, anti-povo e anti-interesse nacional. E a única forma que nós temos de não permitir que essa agenda seja legitimada pelo voto popular é apostar todas as fichas na eleição. De maneira que me parece um equívoco bastante perigoso insistir numa tese que não se sustenta à luz da realidade do país."
‘Ninguém vai me patrulhar’
Ciro também deixou claro que não aceitará qualquer tipo de crítica pelas alianças que busca costurar com setores mais à direita, a exemplo das conversas sobre um possível acordo para encabeçar a chapa com um vice do PP. O pedetista diz que procura um vice da "produção" e da região Sudeste, e um dos nomes cotados seria o do empresário Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Fiesp. Presidente do Grupo Vicunha Têxtil e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Steinbruch filiou-se ao PP, partido historicamente ligado ao deputado federal afastado Paulo Maluf.
As negociações geraram críticas da esquerda, que vinha se aproximando de Ciro após a prisão de Lula.
"Ninguém vai me patrulhar. Eu sou o que sou. E não será ninguém que já praticou coisas muito opostas aos meus valores que vai me impedir de fazer a unidade do país, tanto quanto eu a consiga", destacou Ciro.
"Minha viabilidade é tanta porque eu sou percebido também como uma pessoa que sai do gueto da esquerda e que frequenta o ambiente da produção, do empresariado nacional brasileiro, que sofre também muito gravemente as consequências do descalabro tanto cambial como de juros e fiscal do país. E o que proponho são alternativas viáveis e concretas para um país de dificuldades políticas tão extraordinárias como o nosso", acrescentou.
Sem acordo com a esquerda no primeiro turno
Sobre as negociações com o PT e demais partidos de centro-esquerda e esquerda para uma possível aglutinação de forças em torno de sua candidatura, o pedetista disse não acreditar que um eventual acordo seja provável ainda no primeiro turno.
"Não é provável que isso aconteça ao redor do meu nome, e nem ao redor de ninguém já no primeiro turno. O PT precisa de tempo para amadurecer esse trauma extraordinário que é ter seu principal líder preso e inelegível por uma lei que eles próprios puseram em vigor", disse Ciro, em uma referência à Lei da Ficha Limpa.
Ciro avalia ainda que o desempenho do ex-governador Geraldo Alckmin nas pesquisas deve melhorar.
"Sob o ponto de vista regional, Alckmin tem partida relevante em São Paulo, mas é completamente desconhecido no Nordeste, no fundão do Amazonas, no Centro-Oeste brasileiro. E isso o prejudica. Mas naturalmente, ali com dez, quinze dias de campanha ele vai superar rapidamente esse nível amplo de desconhecimento e as estruturas vão dar a ele uma presença que eu acredito que seja muito maior do que a que ele tem hoje", prevê o ex-ministro.
A uma platéia de empresários, políticos e brasileiros residentes na Suécia, Ciro disse que o Brasil vive o fim de um ciclo histórico, em que a população parece estar estar dispensando os dois partidos que dominaram a cena política dos últimos anos – PT e PSDB – e não sabe ainda o que colocar no lugar.
"Espero que esse cara seja eu", disse ele.
A palestra de Ciro Gomes em Estocolmo foi o primeiro evento de uma série de encontros que deverão ser realizados na capital sueca pela BrazilCham com os principais candidatos à presidência nas eleições brasileiras, nesta fase de pré-campanha eleitoral.
Antes de retornar ao Brasil na quinta-feira, Ciro deverá se encontrar com empresários e lideranças partidárias suecas em Estocolmo.