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Terapia com polvos de crochê divide opiniões entre médicos e ONGs em São Paulo

Tudo neles é pequenino: mãozinhas, pézinhos, boquinha. O início da vida é a primeira batalha a ser vencida por bebês prematuros. Acompanhados por suas mães, sempre prontas a capturar cada movimento, choro ou vitória, eles encontram aconchego e cuidado em unidades de terapia intensiva neonatal em todo o país.

Nessa batalha, diversas alternativas prometem ajudar no desenvolvimento dos pequenos. O método Canguru, que coloca mãe e bebê pele a pele, é a mais consagrada, mas outras, como a terapia com polvos de crochê, pouco a pouco ganham visibilidade e reconhecimento.

Os polvos de crochê são itens artesanais feitos em algodão. Seus tentáculos lembrariam o cordão umbilical, o que ajudaria a promover o bem-estar dos recém-nascidos. O Projeto Octo, desenvolvido em 2013 no Hospital Universitário de Aarhus, na Dinamarca, defende essa ideia. Segundo o estudo, aliás, já há evidências até de que a adoção dos bichinhos tenha proporcionado melhoras significativas no sistema cardiorrespiratório das crianças.

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Sucesso no ABC

Em Mauá, na Grande São Paulo, cerca de 30 voluntárias se reúnem para confeccionar os polvos e, também, ensinar novas participantes. Depois, as produções são entregues a hospitais do ABCDMR . O HMU (Hospital Municipal Universitário), no bairro do Rudge Ramos, em São Bernardo, é um dos beneficiados. Além disso, mães interessadas em adquirir o item podem contribuir com três novelos.

Uma das responsáveis pelo Projeto Octo ABC, Kelly Alves da Rocha, explica que a ação vai além de ajudar os bebês. «Muitas das voluntárias sofrem de depressão ou ansiedade, então a confecção do polvo acaba sendo uma terapia alternativa para elas também.»

A ONG se mantém, basicamente, com doações de material. Desde setembro do ano passado, quando foi criada, já foram doados 350 polvos.

A produção atende requisitos. A cabeça tem um tamanho padrão, de 8 a 14 centímetros, e os tentáculos não podem ser maiores que 22 centímetros. As linhas devem ser de 100% algodão e fibra siliconada, para evitar o risco de alergias e infecções. «Os pontos precisam ser bem fechados para evitar que os bebês coloquem os dedos nos buracos. Os tentáculos também devem ser pequenos para não enrolar no pescoço», conta Kelly.

Controvérsias

Em 2017, o Ministério da Saúde, por meio da Coordenação-Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, emitiu uma nota informando que não orienta o uso do polvo como instrumento terapêutico, uma vez que não haveria comprovação científica suficiente.

Pela nota, a pasta afirmou que não há problemas quanto aos riscos de infecção do objeto, desde que sejam atendidas as normas de controle de infecção hospitalar de cada unidade, e reforçou a importância do contato pele a pele do prematuro com sua mãe e pai, no que é conhecido como método Canguru.

A pediatra e neonatologista formada pela USP (Universidade de São Paulo) Paula Woo segue a orientação. «Recomendo aos pais verificarem as normas do hospital onde seu bebê está e se é possível o uso do polvo, mas que esse não seja o único método de conforto a ser adotado para o bebê que se encontra em um momento tão especial e delicado.»

«Como um objeto de mimo, o polvo tem suas vantagens. Mas não permita que o seu bebê durma com ele no berço, principalmente sem supervisão. Mesmo ‘tentáculos’ menores que 22 cm aumentam o risco de asfixia, estrangulamento e morte súbita», explica a pediatra.

A escolha pelo tratamento com os bichinhos, no entanto, cabe aos pais. É importante lembrar que a orientação de berço seguro envolve o não uso de travesseiros, almofadas, bichos de pelúcia e protetor de berço. «O Projeto Octo para o qual o polvinho foi desenvolvido não inclui os bebês nascidos a termo que estão em casa», completa.

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