As tropas brasileiras começaram a deixar o Haiti na última quinta-feira (31), depois de 13 anos ajudando a reorganizar as forças de segurança do país caribenho e a controlar a violência e os efeitos da instabilidade política local. O cronograma prevê que 85% dos 981 militares brasileiros atualmente no país sejam trazidos de volta ao Brasil até 15 de setembro. Os outros 152 militares soldados e oficiais ficarão encarregados de proteger as instalações brasileiras e cuidar das últimas medidas administrativas necessárias à repatriação de todo o material e equipamento brasileiro.
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Segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas), todo o efetivo militar da Minustah (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti) deve deixar o país até 15 de outubro, quando a operação será oficialmente encerrada. Após essa data, a ONU instituirá no país a Minujusth (Missão de Apoio à Justiça), cujo objetivo será apoiar o fortalecimento das instituições judiciárias.
Desde junho de 2004, quando foi escolhido para comandar o braço militar da missão de estabilização formada por tropas de 16 países, o Brasil enviou ao Haiti cerca de 37,5 mil militares.
Além de trabalhar pela estabilização social e política do país, o Exército Brasileiro enfrentou em 2010 um terremoto de magnitude 7 que matou mais de 220 mil pessoas, deixando 300 mil feridos e 1,5 milhão de haitianos desabrigados. No ano passado, o país foi atingido pelo furacão “Matthew”, que afetou cerca de 2 milhões de pessoas, matando centenas delas. O furacão também destruiu sistemas de água e esgoto então recém-construídos, provocando inundações e agravando os problemas de saúde pública.
Segundo o governo brasileiro, de 2004 até o fim de 2016, o Brasil havia empenhado aproximadamente R$ 2,5 bilhões na Minustah. Desse total, cerca de R$ 430 milhões foram reembolsados pela ONU.
‘O futuro é incerto’
«Estive no Haiti em março deste ano em uma missão humanitária. Ninguém está preparado para a realidade de pobreza extrema do povo haitiano. Lá há níveis de miséria. Quando você acha que já viu tudo, chega a um local em que a miséria é ainda pior.
O povo está acostumado a comer apenas uma vez por dia. As casas, melhor dizendo, barracos de tábuas ou lonas, não têm banheiro. Sem emprego, os haitianos se viram no mercado informal. Vendem desde peças de carros até ovos nas inúmeras feiras espalhadas pelo país.
A capital, Porto Príncipe, é um lixão a céu aberto. Asfalto é quase um artigo de luxo nas ruas da capital. O trânsito é caótico e maluco. As crianças dos mais de 800 orfanatos no país vivem em casas que não têm sequer comida para lhes oferecer. Visitei orfanatos onde as crianças comem apenas uma vez ao dia. E não pense que é uma refeição a que você está acostumado. A comida se resume a uma polenta com um caldo de sardinha. As roupas dos pequenos são todas rasgadas. Brinquedos? Um luxo.
Em meio a essa pobreza, eles aprenderam a amar os brasileiros. Sabe por quê? Desde que o Brasil assumiu a Minustah, a situação melhorou. Os “Bombagais”, como são chamados os soldados brasileiros, ajudaram na reconstrução do país e são extremamente respeitados por lá.
O fim da intervenção para alguns vai significar a volta de investimentos do setor privado ao país, mas a saída do Exército Brasileiro causa apreensão não apenas entre os haitianos que temem a volta das gangues, mas também dos voluntários que ali trabalham. Os “Bombagais” vão deixar saudades!» — Rose Guglielminetti – Metro Campinas