Foco

Sem dinheiro, dois hospitais de Belo Horizonte podem parar atendimentos

No final do século XIX, após dois anos da inauguração de Belo Horizonte, é instalada a primeira instituição de saúde da cidade.  Nas esquinas da rua Ceará e avenida Francisco Sales, na região Centro-Sul da capital, um pequeno pavilhão deu início à Santa Casa. Hoje, o espaço abriga uma estrutura com 13 andares e outros nove prédios anexos, se tornando a terceira unidade do país em quantidade de atendimentos realizados pelo SUS.

Do outro lado da cidade, na região Noroeste, o Hospital Alberto Cavalcanti se tornou referência em tratamentos oncológicos. Inaugurado em 1936 como Sanatório de Minas Gerais, a entidade já foi o mais moderno centro para casos de tuberculose do Brasil. Apesar da importância histórica e relevância para a saúde pública em Belo Horizonte, as duas unidades passam por uma das piores crises desde a fundação e correm o risco de fechar por falta de recursos do governo.

Na Santa Casa, o rombo causado pelos repasses atrasados chegou a R$ 27 milhões. Dos mais de mil leitos que estavam em funcionamento, cerca de 450 já deixaram de receber pacientes. De acordo com o provedor da unidade, Saulo Coelho, os atendimentos podem ser suspensos nos próximos 60 dias. “Se não chegarem novos recursos e um acerto das dívidas pendentes, vamos fechar. Não é possível a entidade ficar aberta sem remédio e insumos necessários para um bom atendimento à população. E quando vamos dialogar, cada esfera [federal, estadual e municipal] fala que o problema é do outro”, enfatizou.

Recomendados

A entidade já anunciou que dará férias coletivas para 500 funcionários – mais de 10% dos 4,7 mil. “Temos lutado para manter os salários em dia, mas se não houver uma mudança não conseguiremos arcar com tantos custos”, explicou. O provedor não descartou que demissões ocorram nas próximas semanas. “As unidades de saúde de BH já não têm espaço para atender. E a Santa Casa responde por 20% de toda a demanda”.

‘Sucateamento’

Equipamentos parados e falta de profissionais especializados. Serviços e exames oncológicos prejudicados. No Hospital Alberto Cavalcanti, os equipamentos de tomografia e mamografia não são utilizados por falta de um médico para emitir laudos. Já o aparelho de radioterapia precisa de manutenção. “O hospital entrou em um processo de sucateamento. O governo parou de investir e a mão de obra não é reposta. Sem os equipamentos, precisamos transferir os pacientes para outras unidades”, contou o diretor da Asthemig (Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais), Marcelino dos Santos.

Segundo o diretor da associação, a direção chegou a afirmar que a unidade seria fechada e que os procedimentos seriam transferidos para o Hospital Júlia Kubistchek, localizado a mais de 12 km de distância. “Atendemos até pacientes do interior e o seu fechamento iria sobrecarregar ainda mais os demais hospitais da cidade”, enfatizou. Só nos serviços de urgência e emergência, o hospital atende mais de 200 pessoas por dia, além de centenas de diagnósticos de câncer e outras doenças de alta complexidade. “Como não conseguimos usar muitos equipamentos, o atendimento acaba sendo incompleto”, finalizou.

Dívida de R$ 2,6 bilhões

Os problemas financeiros atingem toda a rede pública de saúde em Minas. Até o final de abril, a Secretaria de Estado de Saúde acumulava dívida de R$ 2,6 bilhões para fundos municipais, hospitais e entidades – 57,7% de todo o orçamento no ano passado. A pasta disse que “aguarda disponibilidade financeira”.

Como respondeu o governo?

Sobre a Santa Casa, a Secretaria de Estado de Saúde informou que “encaminha os recursos para o município, responsável por definir os valores que serão disponibilizados para cada instituição”. A pasta disse ainda que está conferindo “cada valor informado por Belo Horizonte para que possa ter ciência do que realmente está pendente de pagamento”. A Secretaria Municipal de Saúde alegou que o problema da Santa Casa não é diferente de outros hospitais do país, que “também tem dificuldade com financiamento do SUS”.

Já a Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) negou qualquer decisão de fechar o Hospital Alberto Cavalcanti, porém entende que “é preciso encontrar a alternativa apropriada para o futuro” da entidade. De acordo com a fundação, a unidade apresenta graves problemas estruturais que impedem grandes reformas físicas. Sobre a falta de profissionais, o órgão alegou que está negociando com a Secretaria de Planejamento a possibilidade de novas contratações para completar a equipe de operações dos aparelhos. Porém, “a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe restrições” para que outros funcionários sejam chamados.  METRO BH

Tags

Últimas Notícias


Nós recomendamos