Que atravessar uma avenida no tempo regulamentar do semáforo é mais difícil para os idosos é algo que intrinsecamente se sabe, mas um estudo da Faculdade de Saúde Pública da USP mostrou que, na cidade de São Paulo, 97,8% das pessoas com mais de 60 anos não consegue completar a travessia no verde para o pedestre.
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Isso porque, de acordo com o levantamento, o tempo médio de marcha dessa população na cidade é de 75 cm/s (ou 2,7 km/h), enquanto os semáforos são calculados para que a travessia seja terminada a uma velocidade de 1,2 m/s (ou 4,3 km/h).
O estudo, conduzido por Etienne Duim, José Leopoldo Ferreira Antunes e Maria Lebrão e apoiado pela Fapesp, foi feito com 1.191 idosos na capital paulista.
Para Etienne, a pesquisa demonstra a necessidade de aumentar o tempo para a travessia de pedestres. “Deixar o semáforo aberto mais três segundos para o pedestre vai impactar no trânsito? Sim. Mas há formas de amenizar isso, e a redução de velocidade nas vias já ajuda, porque aí o tempo maior fica diluído.”
“Contando que o envelhecimento da população vem ocorrendo em processo acelerado, é necessário rever o impacto da velocidade alta na cidade”, afirmou a pesquisadora.
E eles são parte significativa da população: dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) indicavam que, em 2016, o percentual de idosos na cidade era de 12,74%.
A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes anunciou anteontem que algumas vias terão aumento de 20% no tempo do semáforo para os pedestres –a primeira a receber o projeto é a avenida Mateo Bei, na zona leste.
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A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou ontem que devem passar também pelo projeto as avenidas do Estado, Rebouças, Marechal Tito, Dona Belmira Marin e a estrada do M’Boi Mirim.
As conclusões do estudo são sentidas na prática por moradores da cidade. O médico João Felício Miziara, 68 anos, diz que só consegue atravessar tranquilo na passarela. “Sempre preciso correr”, disse.
O estudo mediu apenas o tempo que o semáforo fica no verde. “Quando o vermelho pisca, não sei com quantas piscadas posso atravessar”, disse Maria Alice de Vicencio, 73.
Para melhorar a comunicação, alguns semáforos na cidade vão receber um adesivo do pedestre verde, segundo a secretaria, indicando que terão tempo maior no vermelho piscante.