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Peixes e camarões sobrevivem à lama contaminada no rio Doce

Nascido e criado em Itapina, Edson Folador Vicentino mostra camarões retirados do rio Doce: 'Tem muito peixe vivo também', afirma ele |Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem
Nascido e criado em Itapina, Edson Folador Vicentino mostra camarões retirados do rio Doce: ‘Tem muito peixe vivo também’, afirma ele |Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem

“Aqui tem muito peixe e camarão. Acabou a beleza, a água cristalina, mas o rio não morreu.” É das palavras e da peneira cheia de pequenos camarões do proprietário rural Edson Folador Vicentino, 58 anos, que vem a esperança de voltar a ver o rio Doce recuperado.

Edson nasceu e vive às margens do rio em Itapina, distrito de Colatina (ES), e conta que desde o primeiro dia que chegou ao local a lama de resíduos de mineração – resultado do rompimento de uma barragem da Samarco, em Mariana (MG) – há mais de um mês, nunca temeu tomar banho nas águas barrentas, desafiando as orientações de precaução das autoridades. “Mas sei que é difícil voltarmos a ver o rio limpo de novo. Nunca vi nada parecido com essa água”, destaca.

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As imagens que mostram Edson recolhendo pequenos peixes e camarões com uma peneira foram feitas na última segunda-feira. Um sinal de vida, para ele. “Os peixes que morreram antes não tinham oxigênio, mas aqui, hoje, só temos uma água vermelha. Tem muito peixe vivo ainda”, diz ele, embora não coma nada pescado no rio.

Para o coordenador nacional do Centro Tamar, João Carlos Thomé, que acompanhou o trabalho de retirada de espécies do rio antes da chegada da lama, é cedo para afirmar que esse é um sinal de recuperação. “Os peixes podem estar vindo dos afluentes. Há relatos de pesquisadores que afirmam encontrar  peixes vivos no rio Doce, mas não sabemos qual a real capacidade de recuperação”, diz.

Impacto

O professor de Engenharia Costeira da COPPE/UFRJ Paulo Rosman explica que o impacto dos rejeitos no chamado “baixo rio Doce”, que compreende a região entre Colatina e a foz, em Linhares, é menor. “Significa que está uma maravilha? Não. Pelos próximos dois anos, pelo menos, e enquanto o solo e a vegetação destruídos na parte alta do rio, em Minas Gerais, não forem recuperados, a água vai continuar barrenta.” Aliás, ele destaca: ao Estado não chegou a massa mais grossa de lama, e sim água barrenta.

Nesta semana, a ANA (Agência Nacional de Águas) e o Serviço Geológico do Brasil divulgaram relatório que atesta que a presença de metais pesados na água são similares aos observados no rio em 2010 e que, tratada, a água pode ser consumida. Mas nada ainda foi falado a respeito do perigo que representa o  consumo de peixes do rio e do risco de tomar banho nessas águas e também na área atingida pela lama no mar, após a foz de Regência.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos, Otto Baptista, alerta: “O contato a longo prazo com essa água pode trazer riscos à saúde, como câncer e problemas neurológicos”. Uma equipe de médicos vai realizar um estudo com pessoas afetadas em Minas Gerais e realizar análises da água para identificar as consequências a longo prazo.

Ontem, a Justiça Federal determinou continuidade do  fornecimento de água mineral aos moradores de Colatina pela Samarco, que terminaria ontem. A multa, em caso de descumprimento, é de
R$ 1 milhão por dia.

Lama chegou até o mar, no mês passado | Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem
Lama chegou até o mar, no mês passado | Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem

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