Desabafo ou o primeiro passo para o rompimento com o governo? A carta do vice-presidente, Michel Temer, endereçada à presidente Dilma Rousseff reclamando do papel secundário que exerce no governo e falta de confiança colocou uma interrogação, inclusive no PMDB. “O tom é incompatível com a postura que Temer vinha adotando”, declarou um deputado peemedebista, atribuindo o tom a conselhos vindos do ex-ministro Moreira Franco, hoje presidente da Fundação Ulysses Guimarães .
“Não é um documento coletivo, partidário, político. É uma carta pessoal de desabafo”, avaliou o presidente do Senado, Renan Calheiros.
“Essa carta é incompreensível. Fico surpreso em ver alguém figurativo por quatro anos brigar pela aliança com o PT na eleição de 2014”, criticou o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ).
O líder é alvo de insatisfação na bancada e há um movimento para substituí-lo por Leonardo Quintão (MG).
Recluso
Temer transferiu a agenda do gabinete para a residência do Palácio do Jaburu e recebeu caciques do PMDB atônitos com os termos da carta. Foi instituída uma ‘lei do silêncio’. O vice relatou duas insatisfações, segundo presentes: o vazamento da carta, que teria sido feita pelo Palácio do Planalto, e a notícia de que ele assinou sete decretos das ‘pedaladas fiscais’ no valor de
R$ 10,8 bilhões, vista como uma reação à possibilidade dele assumir, caso o processo de impeachment prospere.
A oposição viu na postura do vice um caminho sem volta. “É uma ruptura grave”, afirmou o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).
Reaproximação
Dilma foi orientada por ministros mais próximos a não rebater a carta. No meio da tarde, quando a poeira baixou, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, foi orientado a tentar promover uma conversa entre Dilma e Temer. O encontro foi agendado para esta quarta-feira.