Ao menos 132 estudantes e nove trabalhadores foram mortos ontem quando homens armados do Taleban paquistanês invadiram a Escola Pública do Exército em Peshawar, norte do Paquistão, e abriram fogo, no mais sangrento ataque terrorista dos últimos anos no país.
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A maioria dos alunos mortos tinha menos de 16 anos. Segundo testemunhas, os terroristas entraram na escola disparando indiscriminadamente contra os estudantes. Alguns foram alvejados na cabeça, disseram.
Mais de oito horas após os talebans terem invadido o prédio, militares declararam o encerramento de uma operação conduzida para combatê-los e disseram que nove terroristas haviam sido mortos.
O ataque à escola gerida pelos militares, onde estudavam mais de 1,1 mil crianças e adolescentes, muitos deles filhos de integrantes do Exército, atingiu o coração da sociedade militar do Paquistão e representa um golpe certo para enfurecer o poderoso Exército do país.
‘Fingi estar morto’
O atentado teve início por volta de 10h de terça-feira (horário local, 3h em Brasília), quando alunos e professores estavam em aula. Um dos sobreviventes, Shahrukh Khan, de 15 anos, relatou como conseguiu escapar vivo após ser alvejado nas duas pernas.
“Uma das professoras estava chorando de dor após ter sido atingida na mão”, disse Khan. “Um terrorista foi até ela e começou a atirar até que ela parou de fazer qualquer ruído”.
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Ele disse ainda que, após ser atingido, ouviu um dos terroristas dizendo que havia crianças escondidas debaixo de bancos e ordenando outro homem a matá-las. “Vi um par de botas pretas vindo na minha direção”, contou, já no hospital.
“Dobrei minha gravata e a coloquei na boca para não gritar. O homem de botas pretas continuou procurando estudantes e atirando neles. Fiquei o mais quieto possível, esperando que voltassem a atirar em mim. Meu corpo tremia. Vi a morte tão de perto…”.
O garoto contou que depois disso os homens saíram. “Fiquei ali mais uns minutos. Ao tentar me levantar, caí. Eu me arrastei até o salão seguinte. Foi horrível. Vi o corpo da nossa secretária em chamas. Ela estava sentada na cadeira, o sangue escorria enquanto o corpo queimava”.
Autoria
O Taleban paquistanês assumiu de imediato a responsabilidade pelo ataque, dizendo ser uma resposta a ações militares de Islamabad.
“Escolhemos a escola do Exército para o ataque porque o governo está alvejando nossas famílias e mulheres”, disse o porta-voz do Taleban Muhammad Umar Khorasani. “Queremos que eles sintam a dor”.
O grupo, que luta para derrubar o governo e estabelecer um rígido regime islâmico no Paquistão, tem prometido intensificar os ataques em resposta a grandes operações conduzidas pelo Exército contra insurgentes em áreas tribais.
Pais revoltados
Na parte externa da escola, enquanto helicópteros sobrevoavam, a polícia se empenhava em conter grupos de pais desesperados que tentavam ultrapassar o cordão de isolamento e entrar no local.
Não estava claro ontem se algumas ou todas as crianças haviam sido mortas pelos homens armados e homens-bomba ou no confronto que se seguiu à invasão da escola com as forças de segurança que tentavam recuperar o controle do prédio.
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Malala diz estar ‘de coração partido’ com ‘ato de terror’
A paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz deste ano por sua campanha pela educação, disse ontem que ficou com o “coração partido” com a notícia sobre a morte de crianças no ataque do Taleban em uma escola no noroeste do Paquistão.
“Estou de coração partido por este ato sem sentido e a sangue-frio de terror em Peshawar, disse Malala. “Crianças inocentes na escola não têm espaço num horror como esse. Condeno esses atos atrozes e covardes e permaneço unida com as forças governamentais e armadas do Paquistão, cujos esforços até agora para resolver esse acontecimento horrível são louváveis”, disse.
Malala, hoje aos 17 anos, foi baleada por integrantes do grupo em 2012 em um ônibus escolar, ganhando fama mundial.
Taleban afegão condena morte ‘intencional’ de inocentes
O Taleban do Afeganistão condenou ontem o ataque contra a escola em Peshawar. “A morte intencional de pessoas inocentes, mulheres e crianças, são contrários aos princípios do Islã e esse critério deve ser considerado por todos os partidos e governos muçulmanos”, disse, em um comunicado, Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo.
Embora aliados e atuando com os mesmos objetivos, de derrubar o governo e instaurar um regime islâmico em seus países, o Taleban paquistanês e afegão atuam separadamente.
Brasil repudia violência
Em uma nota divulgada ontem pelo Itamaraty, o governo brasileiro disse condenar “com veemência” o atentado. “Neste momento de pesar e consternação, o povo e o governo brasileiro manifestam sua solidariedade ao governo do Paquistão e às famílias enlutadas”, diz a nota.
“O Brasil reitera seu repúdio à violência e sua condenação categórica de atos terroristas, independente de sua motivação”.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que “causa alguma pode justificar tamanha brutalidade”. Em Londres, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, chamou o ataque de “vergonhoso” e de uma “perda para o mundo” e disse que os responsáveis devem ser levados à Justiça.