
Um militar argentino acusado de ter violado direitos humanos durante a ditadura militar no país (1976-83) revelou, durante julgamento na província de Córdoba, o local em que 25 presos políticos assassinados teriam sido enterrados. Ernesto Guillermo Barreiro, de 67 anos, conhecido como “Nabo”, ainda informou a identidade das vítimas. É a primeira vez desde a redemocratização na Argentina que um militar revela esse tipo de segredo sobre o período de ditadura militar. Jorge Rafael Videla, ex-presidente argentino, governou o país de 1976 a 1981.
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Barreiro é acusado de ter cometido vários crimes no centro clandestino de torturas conhecido como “La Perla”. O juiz Jaime Díaz Gavier, encarregado do caso, disse que se trata de “um acontecimento significativo”. Segundo ele, nunca antes um acusado tinha expressado sua vontade de colaborar.
As informações, contudo, foram tomadas com precaução pela Procuradoria argentina. “Devemos ser cautelosos, uma vez que não poderemos saber se o que ele revela é verdade ou não até que se encontrem os corpos e os exames de DNA”, disse o procurador Facundo Trotta.
Gavier ordenou que a Equipe Argentina de Antropologia Forense, encarregada de realizar as buscas de restos de desaparecidos no país, inspecione o local apontado pelo militar. O julgamento no qual Barreiro está envolvido inclui 27 processos e 50 acusados.
Fissura no muro de silêncio
O jornal local “Página/12” chamou a confissão “sem precedentes” de Barreiro de “uma fissura no muro de silêncio” dos militares.
A mulher do acusado, Ana Barreiro, defendeu a atitude do marido, dizendo que ele tem “muita coragem e muito cérebro, é um grande estrategista e um patriota”.
Existe a suspeita de que Barreiro tenha feito a revelação para conseguir uma redução de sua pena, que pode chegar a 25 anos de prisão ou até mesmo prisão perpétua.