Desapontados com a sequência de problemas na USP Leste – campus fechado por contaminação do solo, atraso de mais de um mês no início do ano letivo e falta de infraestrutura –, estudantes estão desistindo dos cursos.
Segundo o professor de Gestão de Políticas Públicas da USP Leste Pablo Ortellado, em apenas duas semanas, 20 dos 74 alunos decidiram trancar a matrícula na sua disciplina (Políticas Culturais). Ortellado diz que o principal motivo das desistências é a distância entre o campus da zona leste e do Butantã, para onde as aulas foram levadas.
“Eles [os alunos] se programaram para viver de um lado da cidade. Se mudaram, arrumaram emprego por lá e agora têm que atravessar a cidade, à noite”, diz. Após o campus ser interditado pela Justiça, no início do ano, os 4,5 mil alunos da USP Leste foram distribuídos em quatro locais (veja quadro).
A estudante do segundo ano de Lazer e Turismo Ana Beatriz Zanutto, de 18 anos, é uma das que trancou o curso após a série de mudanças. “Tinha uma aula que acabava às 13h45 na Unicid, e outra que começava às 14h no Butantã. Ia acabar sendo reprovada. Jamais conseguiria atravessar a cidade em 15 minutos.”
No terceiro ano de obstetrícia, Ananda Matos, de 22 anos, diz que só não trancou a matrícula ainda porque não quer demorar muito tempo para se formar. “Aqui na Unicid é muito ruim, não tem laboratório e a biblioteca não possui os livros que precisamos”, afirma.
Colega de Ananda, Nábila Dolmayan, de 23 anos, se diz triste com toda a situação. “Fiz três anos de vestibular até conseguir passar. Me mudei para a zona leste e ficava a 5 minutos a pé da universidade. Agora, demoro mais de uma hora. É um desrespeito total”, diz.
O professor de Ciências Naturais Alberto Tufaile, que está ministrando a disciplina Laboratório de Física na Unicid do Tatuapé, diz que leva os materiais de casa. “A Unicid tem laboratórios, mas a USP não quis alugá-los. Simplesmente, nos jogaram em salas de aula. Quando as aulas começaram, eu trazia mais materiais e acabei ficando com dor nas costas por isso. Agora, trago menos.”
Segundo Tufaile, o clima é de desânimo total com a situação e é natural que os alunos pensem em desistir. “Muitos estudantes, não só na minha aula, estão deixando de ir às aulas.”