
O governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro e representantes da oposição se encontraram nesta quinta-feira no Palácio Miraflores, em Caracas, no que é o primeiro contato direto entre as duas partes desde o início dos protestos e violentos confrontos. Apesar do encontro, as manifestações e a repressão do governo não foram interrompidas.
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Nesta quinta, autoridades disseram que um policial foi morto ao levar um tiro na cabeça na cidade de Barquisimeto, oeste do país, elevando o número total de vítimas fatais da onda de manifestações para 40 pessoas. O policial foi alvejado ao dispersar manifestantes, disse o governo.
Líderes mais radicais da oposição venezuelana, como Leopoldo Lopez, que está preso, se opuseram ao diálogo com o governo e disseram que boicotariam o encontro. A reunião, transmitida ao vivo pela televisão estatal, foi uma iniciativa da missão de ministros de Relações Exteriores da União das Nações Sulamericanas (Unasul), que se encontraram com representantes do governo e de vários setores da sociedade venezuelana nas últimas semanas.
No final da tarde, o secretário executivo da Mesa de Unidade Democrática (MUD), Ramón Guillermo Aveledo, escreveu no Twitter: “Rumo ao diálogo, com responsabilidade. Servimos aos venezuelanos e ao seu direito de viver e de avançar em liberdade e em paz”.
Antes do encontro, o líder da oposição, Henrique Capriles, disse que “Miraflores vai tremer”. Capriles perdeu a última eleição para Hugo Chávez em uma disputa apertada em 2013.
“Vamos dizer a verdade ao governo para que o povo abra os olhos e veja que as coisas precisam mudar”, disse.
A reunião, que seria acompanhada pelo Vaticano, não havia sido concluída até o fechamento desta edição.
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Análise – Newton Carlos (Jornalista)
Francisco, o papa dos conflitos
Não se sabe exatamente de quem foi a iniciativa de ter um “terceiro” nas negociações entre governo e oposição da Venezuela.
O que se sabe é que ganhou manchetes ao redor do mundo, segundo o “Latin News”, o anúncio de que o Vaticano estaria disposto, sob demanda, a estar entre os delegados.
A disposição da Santa Sé é em parte conduzida pela decisão do papa Francisco de situar a Igreja no epicentro das tragédias do terceiro mundo, sobretudo da América Latina, onde ela joga seu destino.
No mesmo dia, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou que aceitaria a presença de uma “testemunha internacional”, embora acrescentando que seria mais útil um escrivão.
Registraria, segundo ele, a ausência de disposição à paz por parte da oposição.
Ramón Guillermo Aveledo, o secretário executivo da Mesa de Unidade Democrática, a MUD anti-governo, considerou o anúncio do Vaticano “mais uma manifestação de afeto do papa Francisco pela Venezuela”.
Outro caso é o da Síria. O pontífice tem pedido “reiteradamente” que haja mais humanidade por parte da ditadura em Damasco e também por parte da oposição. “Como ficar indiferente?”, perguntou de sua sacada.
Ele já recebeu o arcebispo da Síria e o governo francês pediu que Francisco formalize um convite à oposição, o que nunca aconteceu.
É a decisão papal de não tomar partido, apesar de insurgir-se contra o barbarismo, como também é visto em sua reação à crise entre a Rússia e a Ucrânia e na lembrança do genocídio em Ruanda que completou 20 anos esta semana.