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O mistério científico solucionado pelo fóssil de animal “mais antigo do mundo”

Moléculas de gordura encontradas em fóssil na Rússia confirmam que o Dickinsonia, que habitou a Terra há cerca de 558 milhões de anos, era de fato um animal, segundo um estudo divulgado pela revista Science.

Uma criatura de formato oval, com 558 milhões de anos de idade, 1,4 metro de comprimento e aparência similar à de uma água viva segmentada é, segundo uma nova pesquisa, o animal mais antigo do mundo já identificado.

Cientistas descobriram na Rússia fósseis do animal, chamado de Dickinsonia, que estavam tão bem preservados que ainda continham moléculas de colesterol.

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A descoberta está sendo considerada o fim de um mistério científico. Até então, estudiosos não tinham conseguido confirmar se o Dickinsonia era de fato um animal – alguns o identificavam como fungos ou protozoários, por exemplo. Foram as moléculas de gordura encontradas no fóssil que deram a resposta.

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«A gordura é uma espécie de carimbo da vida animal», disseram os responsáveis pela descoberta, que foi publicada na revista Science.

O Dickinsonia pertencia a um enigmático grupo de seres do período Ediacarano conhecidos como biota ediacarana. Eles são considerados os primeiros organismos multicelulares complexos a aparecerem na Terra.

Mas, até então, eram considerados extremamente difíceis de classificar. Identificar a posição desses organismos na escala de tempo geológico se transformou em um dos maiores mistérios da paleontologia.

Diferentes equipes de cientistas classificam esses organismos como liquens, fungos, protozoários e até mesmo como um estágio intermediário entre plantas e animais.

A nova análise divulgada nesta semana classifica o espécime encontrado no noroeste da Rússia dentro do reino animal por causa da gordura encontrada nos fósseis.

«As moléculas de gordura que encontramos provam que os animais eram grandes e abundantes há 558 milhões de anos, milhões de anos antes do que se pensava», disse Jochen Brocks, um dos autores do estudo e professor associado da Universidade Nacional Australiana (ANU).

O ‘Santo Graal’ da paleontologia

«Os cientistas lutam há mais de 75 anos para descobrir o que eram o Dickinsonia e outros fósseis bizarros», explicou ele, acrescentando: «A gordura que encontramos confirma agora que o Dickinsonia é o mais antigo fóssil animal conhecido, resolvendo um mistério de décadas que tem sido o Santo Graal da paleontologia».

Esses organismos apareceram há cerca de 600 milhões de anos e floresceram por dezenas de milhões de anos, antes do evento chamado de explosão cambriana, quando grande parte das espécies do período Ediacarano desapareceram.

A enorme diversificação da vida na Terra ocorreu há cerca de 541 milhões de anos, quando a maioria dos principais grupos de animais pode ser identificada por meio de registro fóssil.

Os organismos pluricelulares «deixam para trás» moléculas estáveis chamadas esteranos, que podem ser preservadas em sedimentos – ou seja, nos fósseis – por milhões de anos. A estrutura molecular e a abundância desses componentes podem ser específicas para determinados tipos de organismos, facilitando sua identificação.

Ilya Bobrovskiy, da ANU, extraiu e analisou moléculas de dentro do fóssil do Dickinsonia. Ele descobriu elevados níveis de colesterol nelas, acima de 93%. A título de comparação, os sedimentos ao redor do animal apresentavam taxas de 11% desse tipo de gordura.

Além disso, o fóssil não apresentava tipos de moléculas estáveis que às vezes são deixadas para trás pelos fungos.

«O problema que tivemos que superar foi encontrar fósseis de Dickinsonia que retivessem alguma matéria orgânica», disse Bobrovskiy.

«A maioria das rochas que contêm esses fósseis, como as da Ediacara Hills, na Austrália, sofreram muito calor, muita pressão, e foram desgastadas com o tempo – essas são as rochas que os paleontólogos estudaram por muitas décadas, o que explica por que eles estavam presos na questão da verdadeira identidade de Dickinsonia».

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