Assim que um bebê nasce, os pais logo se preocupam em saber se o filho é saudável e tem características físicas típicas. A partir daí começam os projetos e expectativas para que aquela criança trilhe a vida como os pais esperaram, mas nem sempre é assim que funciona. Cada criança tem sua própria característica e personalidade, assim como aquelas que recebem o diagnóstico de autismo, cujo Dia Mundial é celebrado todo dia 2 deste mês, no início do chamado Abril Azul.
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No mundo, cerca de 70 milhões de pessoas convivem diariamente com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas cada um tem sua maneira , mas cada um tem sua maneira de lidar com ele. O psiquiatra e autor do livro “A vida com… Autismo”, Leonardo Maranhão, esclareceu que há três tipos distintos de manifestação do transtorno. São esses:
Autismo leve: O portador pode apresentar alguma dificuldade para se comunicar, mas não é algo que limite suas interações sociais. Precisa apenas de estímulos e suporte.
Autismo moderado: A pessoa tem um déficit intermediário na comunicação verbal e não verbal. Ela também tem um comportamento mais inflexível e dificuldade para lidar com mudanças.
Autismo severo: O portador possui conhecimentos ou percepções reduzidas, ficam mais isoladas e normalmente não conseguem se comunicar se não receberem alguma ajuda.
Segundo o psiquiatra, os sinais de autismo podem ser percebidos logo nos primeiros meses de vida, um dos exemplos clássicos é a falta de contato visual efetivo enquanto alguém está falando com ela. A mãe e administradora da página “Autismo – Meu lindo mundo azul”, Aline Gaspar, de 36 anos, contou ao Portal da Band que percebeu que o comportamento do filho era atípico logo ao 1 ano e meio de idade.
“Até o 1º ano de vida, ele estava se desenvolvendo de forma regular. Depois, eu comecei a observar que ele não interagia com os irmãos de forma apropriada e preferia brincar sempre sozinho, e todas as vezes que começava a enfileirar os objetos que pegava”, disse. A partir daí, a curiosidade para saber os porquês dos movimentos repetitivos do filho aumentou. Em uma busca rápida na internet, ela achou um possível resultado de autismo, mas a ficha custou a cair.
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«Do luto à luta»
Depois de alguns meses, veio o diagnóstico e de fato o pequeno Lucca de quatro anos tinha o Transtorno do Espectro Autista entre leve e moderado. “Confesso que naquele momento fiquei muito abalada. Nossas vidas mudaram completamente. Eu parei de trabalhar, pois a partir daí meu filho começaria a fazer terapia todos os dias da semana”, disse Aline. Hoje, a socialização e a comunicação dele é muito boa, mas a mãe reconhece que aceitar essa nova condição não foi fácil. “Eu costumo dizer que depois do diagnóstico a gente entra em um luto, mas a gente também precisa ir para a luta” e foi aí que surgiu a ideia de criar a página falando sobre o autismo há um ano e meio, que hoje tem mais de 58 mil curtidas.
De acordo com o psiquiatra, o transtorno afeta quatro vezes mais meninos do que meninas, por isso a cor que o representa é azul. Mas, quando o autismo se manifesta em mulheres os efeitos podem ser mais fortes “pois uma vez que é comum o transtorno ficar ‘camuflado’, já que as garotas costumam ser mais comunicativas e às vezes parecerem disfarçar as dificuldades sociais encontradas”, esclareceu Maranhão. Por isso, ele alerta para que os pais sempre prestem atenção nos comportamentos de seus filhos, porque quanto mais rápido o diagnóstico, maiores são as chances de bom desenvolvimento da criança.
Síndome de Asperger
Foi o que fez a pedagoga Andréa Carla Agnes, mãe da jovem Luísa, de 7 anos. Logo aos 2 anos, a pequena era bem precoce, sabia nomear os animais e cenários sem ter passado por qualquer escolarização. A mãe também passou a perceber que a filha se irritava facilmente e pouco dormia, mas a inteligência dela era o que mais chamava a atenção. Ainda pequena já tinha o vocabulário rebuscado e preferia assistir documentários a desenhos infantis. O caso de Luísa é conhecido como Síndrome de Asperger que está inserida no tipo de autismo de grau leve.
Apesar da precocidade da menina e da inteligência que encanta a todos, a mãe ainda pede para que as pessoas se conscientizem mais sobre a Asperger e também sobre o autismo. “Quando associam minha filha com o autismo, aí sim eu percebo que as pessoas interpretam de forma generalizada e preconceituosa, pois acham que o autista é sempre isolado e não se socializa. Mas quando eu falo que ela é Asperger, já logo a ligam aos grandes nomes e ainda quando vêem a inteligência que ela tem e como ela se sobressai e todos os conhecimentos dela, todos se impressionam», disse Andréa.
Os portadores da Síndrome de Asperger têm memória privilegiada, alto desempenho em determinadas áreas e os aspectos cognitivos e da linguagem não apresentam atraso, às vezes são até muito avançados. A preservação destas habilidades pode, muitas vezes, «enganar» e o diagnóstico ocorre de forma tardia. Como foi o caso de Victor Mendonça que foi diagnosticado de Asperger aos 11 anos; e sua mãe Selma Sueli Silva que recebeu o resultado de autismo leve há um pouco mais de um ano.
Atualmente, mãe e filho sabem e entendem com mais facilidade os porquês de suas “rigidezes de pensamentos”, compreensões de forma literal e a falta de equilíbrio no âmbito emocional, tanto que criaram o canal “Mundo Asperger” no Youtube. “Eu era 8 ou 80, quando estava na escola era mais quieto, não brincava muito com as crianças, eu ficava mais observando o que eles faziam e dessa forma eu já conseguia rotular o que cada um era e ninguém conseguia desfazer aquele pensamento. Mas, em casa, eu era outra pessoa. Sempre falei muito e gostava de conversar sobre tudo que acontecia comigo e interpretava os outros literalmente”, contou Victor.
Selma conta que apesar das pessoas e as professoras da escolinha terem falado que o “Victor era o filho que toda mãe pediu a Deus” por conta da inteligência e do apego que tinha com os pais, ela queria entender quem era o filho e as crises que ele tinha. “Quando ele tinha um mês, eu falei para o pai dele que o Victor parecia ser diferente e que observava tudo que tinha ao redor, com um ano e meio ele já falava tudo sem errar nada. Ele tinha um potencial imenso e cérebro dele funcionava de uma forma distinta que eu queria entender”, contou a mãe que queria ser uma grande companheira para o filho.
Diagnóstico tardio
Entre convivências e conversas com a mãe, Victor – que hoje já tem dois livros publicados sobre o assunto – começou achar que Selma tinha algumas características muito parecidas com ele e foi assim que ela descobriu posteriormente que também tinha autismo de grau leve. “Uma vez em um momento de raiva eu mordi a mão do meu filho, porque ele não estava me entendendo”, e a partir daí que ela passou a entender que aquilo que a mãe dela dizia ser “cabeça dura”, na verdade era um dos sintomas do autismo se manifestando.
Já nos casos clássicos de autismo (de grau severo), os tratamentos e terapias trabalhadas com as crianças precisam ser mais intensas, pois a maioria delas não têm apenas problemas de socialização, mas sim de comunicação verbal. Segundo o fonoaudiólogo e ganhador do prêmio “Mérito Fonoaudiológico” Jaime Zorzi, nesses casos eles tentam trabalhar com a criança o tipo de comunicação não verbal, que é aquela que inclui gestos e desenhos.
Para Zorzi o treinamento com os pais também é fundamental, pois eles, em casa, podem trabalhar a fala com os filhos de um jeito mais social e emocional. “Os adultos precisam ter a consciência que primeiramente qualquer criança, sendo ela típica ou não, tem que se trabalhar o desenvolvimento da comunicação não verbal. Então é importante que os pais controlem a ansiedade, pois claramente todos querem ver a criança falando, mas isso pode não acontecer de imediato”.