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30 anos após descoberta do HIV, número de pacientes com aids aumenta no Brasil

Nesta segunda-feira é o Dia Mundial de Combate à Aids, data para lembrar que 30 anos depois da descoberta do HIV, o Brasil tem pela frente um longo caminho até a solução de antigos problemas. A contaminação, que reduziu no mundo, voltou a crescer no país. E os jovens são as principais vítimas.

Apesar da redução no número de mortes, comparada ao auge da epidemia nos anos 80, a taxa de mortalidade se mantém inalterada em cerca de 12 mil mortes por ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, 720 mil pessoas vivem com o HIV no Brasil, 150 mil não sabem que têm a doença.

Segundo o infectologista do hospital Unifesp, Ricardo Diz, o país vive hoje um momento de alta da infecção,  quando tem muita gente nova entrando e se expondo no início da vida sexual.

Assista:
Série do Jornal da Band mostra os perigos da aids

Contaminação jovem

Charles é o nome fictício de um jovem que está internado há um mês no hospital Emílio Ribas, na capital paulista, para tratar uma tuberculose, consequência da aids que contraiu quando chegou na cidade e começou a frequentar as casas noturnas onde, segundo ele, as relações sexuais acontecem sem o uso de preservativos. Ele não sabe quantas pessoas contaminou, nem de quem pegou o vírus. Para Charles, a doença não assusta mais: “as pessoas têm confiança no coquetel”. Para o infectologista Paulo Olzon, as pessoas se esqueceram de como eram os pacientes com infecções graves.

O medicamento

O vírus foi descoberto no início da década de 80, quando o mundo vivia a liberação sexual. Na época, poucos resistiam mais do que alguns meses às infecções e doenças provocadas pela baixa imunidade do organismo. Hoje existem 21 medicamentos divididos em 5 tipos. Eles impedem a multiplicação do vírus e a entrada deles nas células. O paciente usa uma combinação de pelo menos 3 deles. O coquetel é distribuído gratuitamente pelo SUS.

“Os remédios diminuem a quantidade de vírus no corpo de uma pessoa para níveis que a gente nem consegue detectar”, explica o infectologista Ricardo Diaz.

Mas os medicamentos podem sobrecarregar o fígado, afetar os rins, enfraquecer os ossos e provocar diabetes. Náuseas e mal-estar também fazem parte dos incômodos provocados pelo tratamento.

Preconceito

A operadora de telemarketing Márcia Pereira descobriu que tinha o vírus durante os exames de pré-natal do segundo filho. Ela foi contaminada pelo marido. O tratamento para evitar que a criança nascesse com a doença começou imediatamente.

Assim que nasceu, a criança começou a ser tratada com o antirretroviral. Quatro anos depois, Márcia ficou grávida novamente. Ela tem três filhos. Nenhum deles nasceu com o HIV. Hoje, a preocupação é ensinar aos filhos a importância da prevenção.

“Eu quero mostrar para eles que não é uma brincadeira. Não é uma gripe que você toma um remédio e melhora. Não. É uma doença que você precisa tratar para o resto da vida.”

A doença passada de mãe para filho

A Aids também faz parte da rotina de milhares de crianças. São os filhos e filhas de mães soropositivas, que herdaram o vírus na gestação, no parto ou até durante o aleitamento materno.

O produtor musical Anderson Corrêa, de 23 anos, faz parte da primeira geração de crianças que nasceu com o vírus no Brasil. Ele não chegou a conhecer a mãe, que morreu pouco depois do seu nascimento, e foi criado em um abrigo.

“Seis horas da manhã você tem que tomar remédio. Seis horas da tarde você tem que tomar remédio. É sempre isso que pesa. A criança se pergunta: por que eu tomo remédio todos os dias se eu não estou doente?”, conta Correa.

O medo da rejeição por parte dos amigos e as inseguranças quando começam as relações sexuais fazem com que muitos jovens prefiram o anonimato. Nesta fase, a maior dificuldade é com a adesão ao tratamento. “Eu ainda tenho certo receio de falar com uma menina, com uma pessoa que eu tenho HIV.”, conta W.D., de 16 anos.

Avanço

Na década de 80, a chance de uma mulher transmitir o vírus para o filho era de 25%. Hoje, graças às descobertas da medicina e a melhoria dos medicamentos, esse risco pode ser menor que 1%.

A gestante com HIV precisa seguir a medicação até que a taxa de vírus no organismo seja considerada indetectável, o que já reduz a chance de transmissão. Durante o parto, a mãe recebe o antirretroviral diretamente na veia. E desde que nasce, até completar quatro semanas, o bebê recebe doses do coquetel.

 

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