Uma seleção de menor tradição precisa de um líder com a capacidade de fazer todos terem a sensação de que o impossível pode se tornar possível. Principal expoente de uma talentosa geração belga, Kevin De Bruyne tem sobre si a pressão de fazer o seu país acreditar no improvável.
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Embora entre os anos 1980 e 1990 a Bélgica tenha disputado cinco mundiais seguidos, sendo quarta colocada em 1986 e tendo no período jogadores de destaque como Pfaff, Preud’homme, Scifo, Gerets, Ceulemans, o país nunca tinha reunido tantos jogadores de qualidade de uma vez só. As expectativas ainda não foram atingidas. Na Copa no Brasil, em 2014, a Bélgica caiu diante da Argentina nas quartas de final. Na Eurocopa de 2016, a queda se deu na mesma fase. Duas mudanças significativas aconteceram desde então. O espanhol Roberto Martínez assumiu o comando da equipe e De Bruyne deixou de ser um talentoso coadjuvante de Hazard para se tornar o ator principal da equipe.
Seu crescimento está vinculado à chegada de Pep Guardiola ao Manchester City há dois anos. Com o catalão, o meia deixou de ser uma promessa belga para se transformar em um jogador decisivo, seja com gols, assistências ou movimentações. Tanto Guardiola quanto Martínez consideram que o jogador possa estar em um futuro breve entre os três melhores jogadores do mundo.
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Suas qualidades em campo refletem a sua personalidade. De Bruyne é quieto como um passe para gol ou numa movimentação inteligente sem bola, mas pode ser explosivo como um preciso chute de fora da área. Ele é daqueles que não se escondem dentro de campo e faz de tudo pela vitória. O meia também não deixa oculto aquilo que pensa.
Quando começava a se destacar, ainda em 2012, De Bruyne, então com 19 anos, foi sincero ao falar sobre os seus companheiros de Genk. “Tenho vergonha deles. Sugiro àqueles que não estão com vontade de jogar que saiam”, disparou.
Ainda nas categorias de base, o belga informou a seu técnico no pequeno VV Drongen que estava de saída. O comunicado foi seguido de uma sinceridade juvenil. O motivo era que o Genk tinha uma melhor estrutura para ele treinar. Martínez também sofreu com a acidez dos comentários. Questões táticas da Seleção Belga foram criticadas publicamente por De Bruyne.
Não foram as instalações do Genk que deixaram seus chutes tão afiados quanto suas declarações. A razão vem dos tempos de infância. De Bruyne costumava jogar bola no pátio da casa de um de seus amigos. As partidas improvisadas estavam arruinando o pequeno jardim do local. Para poderem seguir jogando com uma bola de couro em vez de uma plástica, capaz de provocar menos danos às plantas, De Bruyne e seus amigos selaram um acordo de jogaram apenas com o pé não dominante.
Anos depois, a habilidade com ambos os pés foi um dos fatores que o levaram a se profissionalizar cedo. Mas o crescimento até o mais alto nível foi mais lento. Contratado em 2012 pelo Chelsea, De Bruyne passou uma temporada emprestado ao Werder Bremen e enfrentou problemas particulares no seu retorno a Londres. Então seu técnico, José Mourinho afirmou que o belga não estava pronto para competir e que constantemente o jogador chorava dizendo que queria ir embora.
A vida seguiu no Wolfsburg antes de chegar ao Manchester City em 2015. Na segunda passagem pela Inglaterra, ele deixou de ser promessa e virou realidade. A chance que se apresenta na Rússia é a de ser protagonista de uma história mais complexa – conheça o Grupo G, da Bélgica, na página 34.
A Copa do Mundo é um momento definidor na carreira de grandes jogadores. Para o presente, a Rússia pode ser a oportunidade para De Bruyne, agora com 26 anos, se tornar de fato um dos três melhores jogadores do planeta. E ainda transformá-lo no maior belga a já ter calçado chuteiras.