O ex-chefão do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, «apropriou-se» de dinheiro da CBF e da Seleção. A acusação faz parte de documentos obtidos pelo Estado e produzidos pela Procuradoria da Audiência Nacional de Madri. O brasileiro é investigado na Espanha por sua associação com Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, preso no último dia 24 de maio e acusado de formação de uma «organização criminosa internacional»
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Duas semanas depois da detenção do dirigente catalão, em um documento das autoridades espanholas de 8 de junho, Madri deixa claro que o brasileiro é suspeito de «delitos de apropriação indevida e administração desleal».
Conforme já havia sido revelado no final de maio, Ricardo Teixeira é suspeito de ter usado uma rede de empresas de fachada e contas em seis paraísos fiscais para desviar pelo menos 8,4 milhões de euros (R$ 30 milhões) da seleção brasileira e lavar dinheiro. Por contas secretas, ele ainda movimentou mais de 24 milhões de euros (R$ 90 milhões) de origem suspeita. A investigação se baseou nos documentos que a reportagem do Estado revelou com exclusividade em agosto de 2013, mostrando como amistosos da seleção tinham a sua renda desviada
No novo documento, os procuradores agora detalham a manobra. «Resulta da investigação que, de sua posição de presidente a CBF, (Ricardo Teixeira) influenciou na concessão de direitos audiovisuais aos jogos da seleção, e, enquanto isso, por trás e para o prejuízo da CBF, Rosell negociava um contrato de intermediação», apontou.
Os investigadores concluem, portanto, que «parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira». De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o «destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)».
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Ricardo Teixeira foi «a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira».
O documento foi produzido depois que a Justiça pode ouvir Sandro Rosell e outros quatro suspeitos detidos no final de maio. A principal suspeita se refere ao fato de o empresário catalão ter mantido uma empresa, a Uptrend, que assinou um contrato para receber dinheiro de cada amistoso da seleção brasileira, sem qualquer serviço prestado em troca. Quem detinha os direitos para a seleção era a ISE, empresa árabe que de fato organizava os jogos.
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De acordo com a procuradoria, «Teixeira recebeu de forma indireta, mediante uma teia societária, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE deu para a Uptrend por sua suposta intermediação na aquisição por parte da ISE dos direitos do Brasil».
Desde a prisão de Sandro Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade. Nas últimas semanas, o catalão tentou conseguir a sua liberdade condicional, o que foi negado pela Justiça. As autoridades também indicaram que não aceitariam a liberação de seus recursos congelados.