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Deficiente visual, João Maia vai clicar Paralimpíada Rio-2016

selo-jogos-paralimpicos-rio-2016Para fotografar uma menina dançando, o fotógrafo esloveno Evgen Bavcar, cego desde criança, amarrou um uma espécie de sininho na garota para seguir os sons.

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Fotografar “com os ouvidos” ou ser guiado pelos sentidos, no entanto, não é exclusividade de Bavcar. Segundo o fotógrafo piauiense de Bom Jesus, João Maia, também “é primordial a audição” no ato fotográfico. João ficou deficiente visual aos 28 anos, devido a uma uveíte bilateral, uma inflamação no centro do olho que destrói a visão, e não desistiu de seu sonho. Hoje, aos 41, vai cobrir a Paralimpíada a convite do projeto Superação 2016, ao lado de sete profissionais – incluindo um cadeirante – para captar imagens que vão resultar numa exposição fotográfica, um livro e um documentário em vídeo sobre o projeto. Outras imagens de João podem ser vistas no Instagram @joaomaiafotografo.

Como você se tornou fotógrafo?
Com 14 anos eu já gostava de fotografia. Assim que comecei a trabalhar, aos 20, comprei minha primeira câmera, uma Zenit. Em 2008 comecei a praticar esporte, como processo de reabilitação, e a fotografar de novo, em um curso especifico para pessoas com deficiência.

Como é fotografar esportes?
Quando perdi a visão pensei: ‘E agora? Como vou fotografar?’ Você nunca vai associar a deficiência visual à fotografia, mas a fotografia é sensação, sentimentos! Sensibilidade é a melhor palavra para definir. Sensibilidade do tato, audição, no olfato. Para mim, a audição é primordial. No arremesso de peso, no lançamento de dardo, ou disco, você ouve o atleta dando aquele grito de explosão. Isso é o que compõe as minhas imagens. Eu sempre converso com esses atletas e eles me dão dicas de lugares para clicar. Eu também digo para eles vibrarem quando chegam numa linha de chegada, para levantar as mãos, beijar o chão, transmitir alegria.

Qual é o seu fotógrafo predileto?
Quando comecei no curso específico para deficientes visuais, um dos fotógrafos que me foi apresentado foi o [Evgen] Bavcar, que é o maior fotógrafo cego do mundo. Outro cara que eu gosto é o Sebastião Salgado.

Bavcar dizia que vivemos num mundo que perdeu a visão, que as pessoas não têm olhar interior. Você concorda?
Concordo. Somos bombardeados por imagens. Não criamos mais, tudo está pronto. É preciso chegar num lugar e observar primeiro. Não pegue sua máquina e vai disparando. Observe primeiro como funciona esse ambiente; como as pessoas estão se comunicando. Eu chego no lugar e fico observando, com os ouvidos, com os cheiros, para depois capturar aquilo que estou sentindo.

Como você regula seu equipamento?
Infelizmente, não regulo. Minha máquina não tenho totalmente acessibilidade. Então, algumas coisas eu preciso da ajuda de amigos fotógrafos para regular e eu ter certeza do que estou fazendo. Na Olimpíada eu vou utilizar o celular, que tem um leitor de tela, que me dá autonomia de ligar flash, ajuste de luz… Com esse aplicativo eu posso configurar o celular e fazer a foto que eu quero. Além disso, vou estar sempre ao lado de alguém que enxerga, porque eu preciso me deslocar.

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Quando você está fotografando sente aquele “clique” que ficou bom, como quando fazíamos com filmes?
Também tenho essa sensação. Agora eu acredito na tecnologia da câmera, no foco automático, por exemplo. Como é tudo muito rápido no esporte, conto com os disparos contínuos que existem hoje em dia. As pessoa perguntam como um deficiente vê o mundo. Está aí a oportunidade para conhecer minha visão! Venho para mostrar que a fotografia não é só de quem enxerga, mas é também uma paixão de deficientes visuais.

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