Esporte

Após brigas e morte, clássicos em São Paulo terão torcida única

No dia seguinte às cenas de violência que membros das torcidas Mancha Alviverde e Gaviões da Fiel, principais organizadas de Palmeiras e Corinthians, causaram em quatro locais no domingo, dia em que as duas equipes se enfrentaram no Pacaembu, a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo  determinou que, até o final do ano, os clássicos envolvendo os grandes clubes do Estado terão torcida única.  A medida, que já está em vigor, foi um pedido do Ministério Público paulista. Em uma das brigas, um homem que não tinha nada a ver com o encontro, morreu após levar um tiro no peito.

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“Desta forma, vamos evitar que tenha escolta, que haja uma mobilização para acompanhar as torcidas rivais até a porta do estádio. Isso vai ajudar a diminuir também este problema. Portanto, qualquer clássico até o dia 31 de dezembro deste ano terá apenas uma torcida. E isto vale para todas as competições”, anunciou Alexandre de Moraes, secretário de segurança.

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As autoridades também anunciaram mais duas ações. A primeira delas é que a partir de agora as torcidas organizadas estão proibidas de entrarem no estádio com faixas, instrumentos ou qualquer objeto ou símbolo que as identifique. A mudança vale também para times de outros Estados que jogarem no Estado de São Paulo.

A outra medida divulgada é em relação à venda de ingressos. Para tentar acabar com a doação de ingressos a torcidas organizadas por parte de dirigentes dos clubes – que, na sua maioria, negam –, a comercialização será feita apenas on-line. De acordo com a Federação Paulista de Futebol, essa última proposta deve entrar em vigor apenas no Campeonato Brasileiro.

Fragilidade

A sensação de impunidade está presente em relação aos bandidos que se disfarçam de torcedores organizados para cometer crimes. Os 55 integrantes envolvidos nas brigas foram presos no domingo, dia do jogo. E soltos no dia seguinte (leia abaixo).

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Esse, no entanto, é o procedimento legal. O que prevê a lei é justamente o alvo do promotor Paulo Castilho, do Ministério Público de São Paulo, que defende uma mudança na Constituição para banir as torcidas organizadas violentas de uma vez.

“Isso precisa de um basta. No molde atual, essas organizações estão se associando para praticar crimes. Esses jovens estão levando o terror à sociedade. O Estado não pode ser tão conivente e tranquilo com relação a isso. Estas torcidas não têm a menor condição de existir”, disse Castilho, ontem, durante entrevista coletiva, antes da nova medida.

O promotor ainda sugeriu uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para mudar a lei máxima do país, que hoje permite a livre associação sem restrições, e inibir a atuação dos grupos: “Vamos perguntar para sociedade se ela ainda tolera as organizadas, se ela acha que o Estado tem que ser babá de marmanjo que se reúne para brigar. Acho que teríamos 80%, 90% a favor do fim das organizadas.”

A lei, embora a sensação da população seja diferente, não oferece distinção entre organizadas e um cidadão comum que se envolva em situações parecidas.

Quem explica é a advogada criminalista, mestre e doutoranda em processo penal pela PUC-SP, Ana Paula da Fonseca Rodrigues Martins: “Na verdade não há diferença por ser torcida. A partir do momento que a pessoa é pega em flagrante, algumas determinações podem ser elaboradas. Ela pode ter prisão preventiva, medidas cautelas ou até mesmo responder em liberdade, como parece ser o caso. No final do processo investigatório ela será ou não condenada. A rigor, isso depende de alguns pressupostos do autor, como perturbação da ordem pública, potencial para dificultar a investigação ou possibilidade de intimidação de testemunha.”

Brigas de domingo rendem só um dia na delegacia

Ontem, o grupo de 31 torcedores do Corinthians que espancou três palmeirenses – um deles segue internado – após o jogo entre as duas equipes no Pacaembu já estava em liberdade. Os envolvidos foram levados pela PM para a delegacia e, depois de ouvidos, foram liberados e estão de volta às ruas.

Para surpresa geral – ou não! – entre eles estavam dois dos doze corintianos que foram presos em Oruro pelo disparo do sinalizador que matou o boliviano Kevin Espada, em 2013:  Leandro Silva de Oliveira  e Tadeu Macedo Andrade.

Mas não foi só esse episódio. No metrô Brás, que teve vagões depredados e “guerra” de rojões, ninguém sequer foi detido. Em Guarulhos, a confusão levou 27 para a delegacia. Todos já foram soltos.

O caso mais grave foi registrado próximo à estação São Miguel Paulista da CPTM, onde um homem que passava pelo local foi morto por um tiro no peito. O senhor, de cerca de 55 anos, não portava documentos. Segundo o Instituto Médico Legal onde se encontra o corpo, ele pode ser enterrado como indigente a partir de 72 horas se não for identificado por familiares.

Pelo assassinato, três suspeitos foram detidos e também já foram soltos. Assim, os 55 membros de organizados que foram levados à delegacia já estão nas ruas e responderão judicialmente, mas em liberdade. 

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