A Netflix encontrou uma fórmula que cativa e perturba na mesma medida: histórias reais que expõem os aspectos mais sombrios da humanidade. Nos últimos anos, a plataforma tem se concentrado em produções que exploram mentes criminosas e dilemas éticos, desde antologias como Monsters — que revisitou os casos de Dahmer, Ed Gein e os irmãos Menendez — até documentários que exploram a tênue linha entre o horror e a humanidade. Agora, um novo lançamento entrou para o top 10 das séries mais assistidas nos Estados Unidos: “Aileen: A Rainha dos Assassinos em Série”, um olhar inédito sobre a mente de uma das assassinas mais temidas e complexas do século XX.
Esta série documental não apenas reconstrói os crimes que abalaram a Flórida no final da década de 1980, mas também apresenta gravações nunca antes ouvidas de Aileen Wuornos falando do corredor da morte. Nessas gravações de áudio, a mulher por trás do mito confessa detalhes que reacendem o debate sobre seu caso, sua sanidade e a responsabilidade do sistema que a julgou. “Eles me mostraram o que queriam ver… e depois me disseram no que eu deveria acreditar”, ela diz com uma calma arrepiante.
Uma história real que desafia a moralidade e a justiça

Dirigido por Emily Turner, o documentário revisita os momentos mais sombrios da vida de Aileen Wuornos: sua infância marcada por abusos, sua juventude como prostituta e a série de assassinatos que cometeu entre 1989 e 1990. No entanto, o que diferencia esta produção de outros filmes sobre crimes reais é sua perspectiva profundamente humana e crítica.
Em vez de simplesmente retratá-la como um “monstro”, o filme levanta uma questão incômoda: até que ponto uma vítima pode se tornar uma perpetradora? Através de entrevistas, registros judiciais e áudios inéditos, o documentário constrói um retrato complexo que desafia a versão oficial dos fatos.
Além disso, revela inconsistências no processo legal: Aileen teria sido instruída pela polícia sobre como confessar e exposta a práticas questionáveis que lançam dúvidas sobre a validade de seu depoimento. Tudo isso leva à reflexão sobre os limites da justiça e o papel que gênero, classe e preconceitos morais desempenham nos julgamentos midiáticos. O retorno de uma história que continua a perturbar.

Mais de duas décadas após sua execução, a figura de Aileen Wuornos continua a gerar fascínio e medo. Seu caso foi levado às telas em 2003 com Monster, filme que rendeu um Oscar a Charlize Theron, mas esta nova produção vai além do sensacionalismo. A Netflix busca mostrar as nuances de uma história onde a verdade não é absoluta e onde dor, raiva e injustiça se entrelaçam até se tornarem indistinguíveis.
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Com uma abordagem contemporânea, o documentário também examina como o caso seria visto hoje sob a ótica do movimento #MeToo e das discussões sobre violência de gênero e saúde mental. No fim, Aileen: Rainha dos Assassinos em Série não apenas revisita um crime, mas nos confronta com a questão mais perturbadora: quem decide quem merece redenção?

