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Investigação descobre que negros e imigrantes só poderiam ser empregados domésticos no Palácio de Buckingham

O The Guardian revelou que a Rainha não teria levado adiante projetos de lei que racismo e de xenofobia dentro do Palácio de Buckingham.

Foto: Reprodução Instagram @clarencehouse Foto: Reprodução Instagram @clarencehouse

Uma investigação jornalística exclusiva feita pelo The Guardian revelou também que a Rainha Elizabeth “permaneceu pessoalmente isenta” de leis de igualdade que visavam o término de práticas de racismo e de xenofobia dentro do Palácio de Buckingham.

O jornal britânico The Guardian realizou uma pesquisa em documentos dos Arquivos Nacionais do Reino Unido e descobriu que os cortesãos da rainha proibiram «imigrantes de cor ou estrangeiros” de servir em funções na Casa Real do Reino Unido até pelo menos o final dos anos 1960. Os documentos recém-descobertos pelos jornalistas David Pegg e Rob Evans reacenderam o debate sobre racismo e xenofobia dentro da Família Real britânica.

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Os documentos descobertos revelaram como, em 1968, o principal gerente financeiro da Rainha informou aos funcionários públicos que «não era uma prática permitida nomear imigrantes negros ou estrangeiros» para funções na Casa Real, embora eles tivessem permissão para trabalhar como empregados domésticos.

Os jornalistas do The Guardian não conseguiram esclarecer quando de fato a prática discriminatória terminou, já que não encontraram nenhum documento revertendo a norma do gerente financeiro dada em 1968. 

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Procurado pelo The Guardian, o Palácio de Buckingham se recusou a responder a perguntas sobre essa norma e sobre quando ela foi revogada. O Palácio de Buckingham somente informou que seus registros mostram pessoas de minorias étnicas empregadas na década de 1990 e acrescentou que, antes dessa década, não mantinha registros sobre as origens raciais dos funcionários.

A Rainha teria “lavado as mãos”

Os jornalistas descobriram que, na década de 1960, ministros britânicos procuraram introduzir leis que tornariam ilegal a recusa de empregar um indivíduo com base em sua raça ou etnia. O The Guardian descobriu que a Rainha Elizabeth “permaneceu pessoalmente isenta de cumprir leis de igualdade por mais de quatro décadas. A isenção da Rainha tornou impossível que as mulheres ou pessoas de minorias étnicas, que trabalharam para sua família, reclamassem denunciassem discriminação na justiça”, relata a reportagem.

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Através de comunicado, o Palácio de Buckingham questionou a argumentação do jornal de que a Rainha Elizabeth teria ficado “pessoalmente isenta”, ou seja, que ela teria ficado acima da lei em questões sobre discriminação de seus funcionárioa. O Palácio informou ainda que os Recursos Humanos da Coroa mantém um mecanismo específico para acolher as queixas de funcionários relacionadas à discriminação. Questionado sobre como esse mecanismo avalia e investiga as queixas dos funcionários, o palácio não respondeu ao The Guardian.

Só legislam sobre o que a Rainha permite

Na década de 1970, políticos britânicos implementaram uma série de leis de igualdade racial e sexual para erradicar a discriminação no mercado de trabalho. Porém, os documentos oficiais descobertos pelo The Guardian revelam que os funcionários do governo na década de 1970 trabalharam em conjunto com os conselheiros da Rainha Elizabeth na redação destas leis.

A pesquisa foi motivada por uma investigação jornalística do The Guardian sobre o uso de um procedimento parlamentar misterioso por parte da Rainha Elizabeth II. O tal procedimento, do qual só se sabia rumores até agora e que é chamado por “consentimento da Rainha”, é um mecanismo secreto entre a Coroa e o Parlamento britânico, por meio do qual a monarca concede permissão ao parlamento para debater leis que afetam a ela e a seus interesses privados. Em outras palavras: a Rainha usa do seu cargo como monarca para dizer o que pode, o que não pode e de qual forma um determinado assunto pode ser debatido no parlamento.

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O Palácio de Buckingham informou ao jornal que o processo é uma mera formalidade, apesar de os jornalistas terem mostrado evidências convincentes de que a Rainha usou repetidamente o poder de pressionar secretamente os ministros para ajustar alguma lei com relação aos seus interesses pessoais. 

Negros e imigrantes só poderiam ser empregados domésticos da Coroa

Em 1968, o então secretário do Interior, James Callaghan, criou um projeto de lei para expandir as leis de discriminação racial do Reino Unido que, até então, apenas proibiam a discriminação em locais públicos, de modo que também evitassem o racismo no mercado de trabalho. Sua ideia era criar um Conselho de Relações Raciais, que atuaria como um ouvidor para denúncias de discriminação e que poderia abrir processos judiciais contra indivíduos ou empresas que mantivessem práticas racistas.

No mesmo ano, conversações foram mantidas entre os funcionários do secretário do Interior e Lord Tryon, então responsável por administrar as finanças da Rainha. Ele explicou que os funcionários da Coroa estavam enquadrados em três funções básicas: cargos seniores; trabalhadores de escritório e empregados domésticos. 

De acordo com a reportagem do The Guardian, Lord Tryon teria informado que, para os cargos dos trabalhadores de escritório, “não era, de fato, prática nomear imigrantes negros ou estrangeiros”. Ele foi além e disse que para os cargos como empregados domésticos, “os candidatos negros poderiam ser contratados livremente”

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Meses mais tarde, Lord Tryon teria informado que a Rainha estava preparada para cumprir a lei proposta, mas apenas se gozasse de isenções semelhantes às fornecidas ao serviço diplomático: que poderia rejeitar candidatos que residiam no Reino Unido há menos de cinco anos e que as denúncias de racismo de seus empregados não poderiam ser levadas aos tribunais e seriam tratadas somente no Ministério do Interior.

Depois, essa lei foi substituída por outra, ratificada em 2010, a chamada Lei de Igualdade, em vigor até hoje no Reino Unido.

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Todo mundo sabia

Ao longo de décadas, os críticos da monarquia britânica apontam a falta de diversidade entre os funcionários da Coroa. Em 1990, o jornalista Andrew Morton relatou no Sunday Times que “um rosto negro nunca agraciou os escalões executivos do serviço real, a família e os funcionários” e “mesmo entre funcionários clericais e domésticos, há apenas um punhado de colaboradores de minorias étnicas”.

No ano seguinte, o pesquisador real Philip Hall publicou um livro, ‘Royal Fortune’, no qual citou uma fonte próxima à Rainha confirmando que “não havia cortesãos não brancos nas posições mais altas do palácio”. Em 1997, o Palácio admitiu ao Independent que cumpria uma política oficialmente recomendada de monitoramento do número de funcionários para garantir a igualdade de oportunidades.

A resposta final

Em resposta aos questionamentos do The Guardian, o Palácio de Buckingham informou: “A Casa Real e a soberana cumprem as disposições da Lei da Igualdade, em princípio e na prática. Isso se reflete nas políticas, procedimentos e práticas de diversidade, inclusão e dignidade no trabalho dentro da Casa Real. Quaisquer reclamações que possam ser levantadas sob a lei seguem um processo formal que fornece um meio de ouvir e corrigir qualquer reclamação”.

No entanto, o The Guardian informou que o Palácio de Buckingham não respondeu como a Rainha Elizabeth e os membros da Família Real estavam de fato cumprindo a lei britânica.

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