A filosofia, a psicologia e a autoajuda parecem entrar em sintonia quando propõem que, antes de se relacionar com o outro, é necessário conhecer a si mesmo. Esse foi o movimento feito pelos mineiros do Grupo Galpão ao chamarem Marcio Abreu para dirigir “Nós”, em 2016.
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Diante de um cenário de incertezas, evidenciado então pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, a trupe reafirmava ali a potência da experiência teatral como estratégia para seguir adiante.
O resultado foi tão intenso que frutificou. “Outros” estreia nesta quinta-feira (23), em São Paulo, com o objetivo de falar sobre poesia e alteridade.
“‘Outros’ é um desdobramento de ‘Nós’ que não estava previsto. São peças autônomas, mas que formam um discurso sobre a linguagem teatral e dialogam com questões do real sem tentar reproduzir a realidade”, diz Abreu.
Como sugere o nome da obra, a ideia é trazer a perspectiva do outro para a cena. Para isso, o Galpão voltou às ruas – onde encenou algumas de suas peças mais antológicas – e encarou exercícios.
Em um deles, os atores apresentavam, sozinhos, atividades de ordem privada no espaço público. Em outro, eles se reuniam em uma mesa e abriam o diálogo com quem quisesse se sentar ali.
“Essas ações geraram um tipo de sensibilidade fundamental para criarmos essa dramaturgia, que põe em jogo nossa maneira de entender o teatro”, diz o diretor.
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A estreia de “Outros” em Belo Horizonte aconteceu no segundo turno eleitoral, marcado pela radicalização dos discursos e a falta de diálogo, adicionando uma camada de sentido involuntária à obra.
“É engraçado como a arte emula os sentidos que estão ocultos na sociedade. A peça, não é sobre isso, mas, de certa forma, também é, porque as estruturas dramatúrgicas estão conectadas com o real”, conclui Abreu.
SERVIÇO:
No Sesc Bom Retiro (al. Nothmann, 185, tel.: 3332-3600). Estreia nesta quinta-feira (23). De qui. a sáb., às 21h; dom. e feriados, às 18h. R$ 30. Até 3/3.