Ilustrador de sonhos – e pesadelos. Foi assim que Dave McKean, 54, ganhou fama mundial. Ao lado do escritor e roteirista inglês Neil Gaiman, ele é o responsável pelas 75 capas da graphic novel “Sandman”, considerada um dos grandes clássicos do universo dos quadrinhos.
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Recentemente de passagem pelo Brasil, McKean conversou com o Metro Jornal a respeito de sua paixão pela música, seu mais recente livro “Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash” (editado em português em formato de luxo pela Darkside Books) e sua carreira de sucesso como desenhista, diretor de cinema e músico.
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Confira entrevista com McKean:
Seu trabalho é considerado icônico, especialmente sua colaboração com Neil Gaiman na série “Sandman”. Como começou a parceria de vocês?
A gente trabalhava junto em uma revista chamada “Borderline”, em 1986. Eu estava terminando meu último ano na escola de arte e o Neil estava trabalhando como jornalista na época. Tínhamos uma paixão mútua por quadrinhos e decidimos nos aventurar a produzir uma HQ britânica que potencializasse o mesmo material feito para filmes, TV e literatura. Quando nosso trabalho na revista “Borderline” acabou, começamos a esboçar uma parceria. O Neil me mostrou uma história que tinha acabado de escrever chamada “Violent Cases”. Foi também nessa época que Paul Gravett, fundador e editor da revista “Escape”, me procurou perguntando se eu não tinha nenhum material interessante para eles publicarem. Eu decidi mandar a “Violent Cases” para que ele avaliasse. Embora o material fosse mais longo do que o Paul tinha em mente, ele acabou gostando e decidiu publicá-la em formato de graphic novel. Dali em diante, eu e Neil viramos parceiros de trabalho.
Uma das marcas registradas de suas ilustrações é a fusão de elementos como desenho, colagem, fotografia e pintura. Como surge a inspiração para essas criações?
Minha principal inspiração vem do texto com o qual eu esteja trabalhando. Eu sempre busco imaginar na minha mente o tom da voz dos personagens, assim como a atmosfera e a ideia central do roteiro. Além disso, eu estou sempre aberto a explorar novas formas de imagens. Fotografia, por exemplo, não era um elemento muito usado em quadrinhos, e por isso eu comecei a experimentar com essa arte, tentando recriar o trabalho que me inspirava em discos, designs artísticos e capas de livros. Minha intenção sempre foi produzir um trabalho que transcendesse o mundo dos quadrinhos – algo com peso universal. Acho que as capas do “Sandman” conseguem representar bem essa estética. Elas funcionam como um diário artístico para mim e me permitiram brincar com novas linguagens digitais como tipografia, colagem e pintura. Virou minha marca registrada mesmo.
Sempre se especula muito sobre uma possível adaptação de “Sandman” para os cinemas ou TV. Existe alguma possibilidade disso acontecer e, caso vire realidade, você participaria das produções?
(Risos) Não, não há nada concreto a respeito disso que eu saiba. São só especulações mesmo.
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Muita gente talvez não saiba, mas você também assinou capas de discos para bandas e artistas como Skinny Puppy, John Cale e Front Line Assembly. Sempre teve vontade de trabalhar com o meio musical?
Quadrinhos e capas de discos sempre foram as áreas que mais me atraíram como artista, desde minha época de estudante. Tive sorte de que quando meus quadrinhos começaram a fazer sucesso, alguns músicos e ilustradores começaram a notá-los e gostar do que eu fazia. Foi assim que comecei a receber pedidos para produzir capas de álbuns e CDs. Cada design é diferente e o processo de criação varia de trabalho a trabalho. No geral, eu gosto de ficar um ou dois dias imerso na música do artista para encontrar o tema exato para a capa que vou produzir. Desse jeito, meu trabalho acaba tendo um resultado diferente sempre.
Tem alguma capa de disco que goste mais?
Gosto bastante das capas que fiz para o John Cale (“Circus Live”, de 2007) e Bill Bruford. Eu fiz muitas capas para o Frontline Assembly também e fico contente em ver como meu trabalho evoluiu com o tempo. As minhas capas favoritas porém são as que fiz para Roy Harper, Matthew Sharp e a do saxofonista e compositor de jazz Iain Ballamy. Tenho muito orgulho desse trabalho.
Você é dono de uma gravadora e também toca piano. Que importância tem a música no seu processo criativo?
Música tem muito peso na minha vida. Eu componho música o tempo todo e estou sempre buscando encontrar harmonias que tenham afinidade com a atmosfera que estou tentando criar. Isso realmente ajuda a cristalizar a força das imagens. Meu mais recente livro, “Black Dog”, que acabou de ser publicado em português, é um bom exemplo disso. Eu compus várias peças orquestrais para acompanhar as imagens do livro, em uma espécie de filmes projetados. Aliás, minhas composições foram apresentadas ao vivo em alguns concertos especiais que fizemos no Museu de Arte Moderna de Londres e no Somme Memorials em Amiens, na França. O resultado ficou bastante legal.
Você é um artista sempre muito ocupado. Tem algum projeto novo no momento?
Estou em processo de finalizar um livro bem controverso em parceria com Jack Gantos (autor infantil norte-americano), que ainda segue sem título, mas deve ser publicado no início do próximo ano. Vou ilustrar uma nova graphic novel para a Dark Horse. A história fala de um mundo cheio de tristeza, habitado por monstros, mas embalado por uma linha fantástica e política. Também estou editando um novo filme que dirigi chamado “Wolf’s Child”. Tomara que o público goste desses projetos.