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Anna Muylaert experimenta cinema de baixo orçamento em ‘Mãe Só Há Uma’

O Brasil se comoveu em 2002 com a história da mãe que reencontrou o filho raptado da maternidade 16 anos antes. Criado pela própria sequestradora, o menino Pedrinho passou então a viver com os pais biológicos. Em “Mãe Só Há Uma”, que estreia nesta quinta-feira (21), Anna Muylaert imagina a história do ponto de vista do adolescente que tem sua identidade posta em xeque ao mesmo tempo em que experimenta sua sexualidade. A abordagem rendeu o prêmio Teddy – voltado a questões LGBT – no último Festival de Berlim.

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Uma pré-estreia gratuita do novo longa abre hoje (20) o Festival de Cinema Latino-Americano, às 20h, no Memorial da América Latina, e inaugura um mergulho na obra da diretora, a grande homenageada do evento, que reúne 23 títulos dirigidos ou roteirizados por ela e vão desde seu primeiro longa, “Durval Discos” (2002), a telefilmes e episódios de séries, como «As Canalhas».

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O destaque, no entanto, é a sessão com uma versão prévia de “Que Horas Ela Volta?” (2015) que acontece na segunda-feira (25), às 19h, no Cinesesc, com a presença da cineasta. “A demo funciona como um rascunho que ilumina as deficiências do filme. A Anna já trocou protagonistas e mexeu radicalmente no roteiro depois de fazer esse rascunho e entende como é rico compartilhar esse processo”, afirma Francisco César Filho, um dos diretores do festival.

Na entrevista a seguir, Anna Muylaert explica por que desejou fazer um filme de baixo orçamento após o frenesi de «Que Horas Ela Volta?» e o que essa experiência acrescenta a sua cinematografia

Por que incorporar o tema da sexualidade a um argumento já muito difícil?
Os dois temas falam da mesma coisa, que é a busca da identidade. Essa história é uma tragédia, e acho que todo adolescente passa por ela em nível simbólico. Essa realidade do gênero fluido é muito interessante. Achei que deixaria o filme mais vibrante e contemporâneo.

Este é um filme de baixo orçamento. De que forma essa limitação serve à história?
Eu queria experimentar fazer um filme em outro modo de produção – com menos dinheiro, menos equipe, mais liberdade e elenco desconhecido – para inventar novos caminhos para mim. Fiz coisas como câmera na mão, usei uma narrativa menos clássica e estou cada vez mais trabalhando com improviso, filmando o que está mais perto da realidade. Uma equipe grande, às vezes, afasta isso.

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O filme provoca a mesma sensação de incômodo que Pierre (Naomi Nero) sente naquela família nova e estranha. Que estratégias você usou para provocar isso?
A narrativa é muito do ponto de vista dele, que só conhece os pais no meio do filme. Fiz montagens em que você via a mãe antes, mas daí você ficava com pena dela e com raiva dele. Ela é uma coitada, mas ficando só com ele você a vê de um jeito não tão compassivo, como uma chata. Outra coisa que ajuda nisso é o fato do filme dar saltos narrativos. Você demora a entender o que está acontecendo, e acho que essa é a sensação do Pierre. Não tem como compreender uma situação assim.

Assim como “Que Horas Ela Volta?”, este é um filme humanista. Você está perseguindo essa trilha?
Sempre persegui, mas agora, com a maturidade e a experiência estou sabendo melhor o porquê de fazer cada filme. Eu espero chegar nesses temas porque acho que essa é a característica do filme do meio, que não é autoral nem comercial, que tenta contar uma história e ligar sua inteligência de alguma maneira, entregando principalmente a possibilidade de ampliar sua visão e seu coração.

Veja o trailer de «Mãe Só Há Uma»:

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