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Protagonista do longa ‘Infância’, Fernanda Montenegro critica dependência estatal da cultura

Em “Infância”, que estreia nesta quarta-feira, Fernanda Montenegro representa a maturidade. No novo filme de Domingos Oliveira, a atriz de 85 anos interpreta Dona Mocinha, matriarca reacionária de uma família brasileira dos anos 1950.

O que a fez aceitar o papel?

O roteiro, que eu já conhecia, e minha admiração pelo milagre que é a vida do Domingos. Ele não para de produzir e tudo tem qualidade. “Infância” é um maravilhoso pequeno filme, uma joia. Não ambiciona dimensões maiores nem faz demagogia de engajamento político. Tem isso tudo, mas de modo delicado.

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Como é viver uma senhora chamada Mocinha?

É uma brincadeira terrível: ela é rica, baiana, e foi para a capital da República morar em um palacete. Não deixa de ser aquela senhorinha de sertão, de formação reacionária, conformista. Mas, na hora de comandar a família, faz disso uma força bruta.

Qual a sua percepção sobre a mentira, que permeia vários momentos do filme?

São mentiras aparentemente caridosas, mas sórdidas. Às vezes uma mentira caridosa é necessária, principalmente se for algo doloroso, como uma doença. Depende do ser humano com quem você lida.

O que falta para as produções nacionais ampliarem a visibilidade no exterior?

Reconhecimento internacional nosso cinema tem. É raro o ano em que um filme nosso não é premiado em festivais lá fora. Isso é um milagre, porque não temos indústria cinematográfica. Temos filmes do amor, daquele que vai à luta para pôr em prática sua vocação de cineasta.

Como você avalia a dependência por leis de incentivo?

Leis de incentivo só atrapalham. Você fica entregue a comissões – que devem existir porque o dinheiro é público –, mas que podem ter representantes com outros interesses. O teatro é mais complicado, visto com mais descaso e mais domínio político, desde os militares. Há uma estatização das artes em geral, principalmente das artes cênicas.

São 70 anos de carreira. Ainda falta alguma coisa?

Quero acordar com ânimo e energia para viver meu dia. Isso até agora não faltou e espero que nunca falte. Tenho um ofício ao qual me entrego com seriedade e prazer.

Tem alguma insegurança?

Medos e inseguranças eu tenho todos. São uma motivação: sem essa sensação, você não caminha. 

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